“A Uber é excelente: em 2020 faturei R$ 74 mil, em 2024 faturei R$ 132 mil; me tornei motorista diamante e minha taxa é de 12% ao mês”, diz motorista de app

Carlos Boechat é motorista de aplicativo desde agosto de 2019, mas já opera com a cabeça de um empresário. Ex-executivo do setor corporativo, ele decidiu encarar o volante como um novo desafio profissional e, desde então, transformou sua rotina com estratégias sólidas de gestão, metas claras e total domínio sobre a plataforma. Rodando exclusivamente pela Uber e mantendo-se como motorista Diamante há cinco anos, Boechat fatura até R$ 14 mil por mês em Belo Horizonte — mesmo com carro alugado.

Crítico das métricas ultrapassadas, como ganho por quilômetro, ele defende que o motorista precisa conhecer seu próprio custo por corrida e aproveitar todos os recursos que a plataforma oferece: Uber Pet, Flash, Comfort, Uber Pro, cashback e missões. “O problema não é a Uber, é o motorista que não estuda”, dispara. Nesta entrevista, Boechat revela sua rotina, os números que sustentam sua operação e por que, para ele, dirigir por aplicativo é um excelente negócio — desde que seja levado a sério.

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Desde quando você é motorista de app e o que te levou a começar a realizar esse serviço?

Boechat: Ok. Bom, eu sou motorista desde primeiro de agosto de 2019. Eu entrei como motorista de aplicativo como mais um desafio, uma coisa nova na minha vida, porque eu tinha uma vida corporativa ativa, né? Fui gerente da Brastemp durante 10 anos, fui diretor de mídia da TV Embarque, fui empresário, dono de seis lojas de eletrodomésticos, e estava como gerente comercial de uma indústria. Então eu queria um novo desafio, algo diferente.

Aí, no falecimento da minha mãe, que foi em maio de 2019, eu fui para o Rio de Janeiro — que é de onde eu sou — para o enterro dela. Peguei um Uber na rodoviária, porque fomos às pressas, eu, minha filha e minha esposa, e comecei a conversar com o motorista. Aquilo me fomentou por dentro, achei interessante e comecei a estudar o aplicativo. Passei dois meses estudando todas as suas anuências e, um mês depois, fiquei andando de Uber para conhecer e ver o feedback dos motoristas, entender o que eles tinham para me falar sobre a plataforma. Foi então que eu iniciei, em 1º de agosto de 2019.

Entendi. E minha próxima pergunta, boa, é: como é a sua rotina como motorista de aplicativo hoje? Então, de que horas a que horas você trabalha? Se você folga algum dia da semana? Se você só volta para casa depois de atingir uma determinada meta, tipo 250, 300, 350, como é que é?

Boechat: Bom, eu montei o meu plano de negócio, a minha estratégia de trabalho. Começo todo dia às 5:30 da manhã e termino às 20 horas. Entre 19 e 20 horas eu já estou em casa — 19h, 19:30, 19:15, 15 para as 20h, no máximo às 20 horas. De segunda a sexta. Eu faço 15 minutos de lanche de manhã, uma hora de almoço em algum restaurante na rua e mais 15 minutos de lanche à tarde. No sábado, eu trabalho até 1 hora da tarde. E no domingo eu nunca trabalhei, durante esses quase 6 anos de aplicativo.

Entendi. E trabalhando da maneira que você trabalha, você consegue faturar mais ou menos quanto por dia? Quanto que sobra no final do mês? Você é um motorista seletivo, então só faz corridas a partir de R$ 1,60, R$ 1,70? Como é que é?

Boechat: Bom, esse tipo de conta que você falou agora — R$ 1,60, R$ 2 — é uma coisa que escuto desde 2019. No meu modo de ver, isso já está ultrapassado. Eu não faço conta de valor. O mal do motorista de aplicativo é que ele não tem uma gestão. Essa síndrome de R$ 1,60 ou R$ 2 por km perdura há mais de 8 anos. Todo mundo fala isso. Mas a conta não é essa.

A conta é: primeiro, eu tenho que achar meu CVM, que a maioria nem sabe o que é. CVM é o custo valor de mercadoria. Eu tenho que saber, por exemplo, se meu carro faz 10 km por litro, meu CVM é R$ 0,50. Se eu for buscar um passageiro a 2 km, vou gastar R$ 1, e se eu for levar ele a 5 km, vou gastar R$ 2,50. Então o custo da corrida foi R$ 3,50. Se eu ganhei R$ 12, eu tive um lucro de mais de 300% ou 400% em cima daquela corrida.

Chegando no final do dia, eu fecho minha meta em cima disso. Eu pego corridas que sejam rentáveis, não corridas com base no valor por quilômetro. O valor por quilômetro eu já sei — meu quilômetro é R$ 0,50. E, por eu ser motorista diamante há 5 anos, eu tenho uma série de situações dentro do aplicativo que me dão um ganho substancial, que abrem um leque de opções. Eu tenho Comfort, tenho X, tenho Uber Pet, entrega e Flash. É uma somatória de situações que me traz rentabilidade.

Além disso, por ser motorista diamante, eu tenho alguns diferenciais da Uber. A maioria dos motoristas não estuda o Uber Pro, não sabe como funciona. Eu tenho missão, premiação, desconto de combustível de 10% — tudo isso agrega valor para mim. Então eu acabo tendo uma meta na semana bastante significativa, que me dá retorno porque é uma somatória dos serviços que a Uber oferece.

A maioria dos motoristas roda só no Uber X, no Comfort ou no Black e esquece as outras anuências, como as premiações, o desconto em combustível, as missões que a Uber passa. Somando tudo isso, eu tiro na semana, só de prêmio, entre R$ 260 e R$ 280. Com mais o desconto de combustível, que me dá algo em torno de R$ 60 por semana, eu chego no final do mês com uma rentabilidade desses serviços que quase cobre o combustível.

Porque eu trabalho em cima dos serviços. A maioria não faz isso. Tenho visto várias reportagens que vocês publicam no 55, né? Motorista falando: “ganha R$ 2”, “ganha R$ 3,50” — mas a conta não é essa. A conta é: qual é seu CVM? Quantos quilômetros seu carro faz por litro? Divide isso para saber o valor do quilômetro. Depois, veja o valor da corrida para entender o seu custo. Em cima disso, não existe mais R$ 2 ou R$ 3, existe 200%, 300%, 400%. É uma rentabilidade. Você coloca R$ 3 e ganha R$ 12.

Esse é o diferencial do negócio, e muita gente não usa isso. Se você pegar a leitura dos motoristas, é praticamente a mesma — não muda. Porque eles não estudam o aplicativo, não sabem como funciona. Às vezes eu ensino alguém. Semana passada mesmo, peguei uma moça com 8 anos de aplicativo que não sabia como habilitar o Uber Pet e o Flash no aplicativo dela. Depois de 8 anos! E é uma coisa simples, está lá no portal de oportunidade, é só clicar e habilitar. Entendeu?

A maioria desses motoristas vai sempre naquilo que o outro fala e não busca o conhecimento, não estuda o aplicativo, né? Vai naquilo que os influenciadores falam, ou que o amigo comenta. Os influenciadores não ensinam ninguém a ganhar dinheiro.

É tudo falando mal, pegando alguma situação que eles pontuam e, em cima disso, geram conteúdo para quê? Para ter anunciante, né? E benefício próprio. Mas nunca, nenhum deles fala: “Olha, você tem que fazer isso, isso e isso. Você tem que cumprir com as normas da Uber para ter mais rentabilidade. Para subir de nível.”

Hoje, são quatro níveis na Uber: Azul, Ouro, Platina e Diamante. Quanto maior o seu nível, o algoritmo reduz a taxa dele. O algoritmo entende que você quer trabalhar, que você vai pegar corrida. Você não fica parado, igual a maioria dos motoristas que ficam estacionados esperando uma corrida. Por quê? Você está constantemente com suas taxas altas, seu nível de cancelamento é baixo e você recebe uma coisa que a maioria não recebe, que é o Uber Reserva — passageiros que reservam a corrida e ela vai direto para você. É uma somatória de coisas que acaba te dando uma rentabilidade muito boa.

A minha meta hoje fica entre R$ 500 e R$ 600 por dia. Eu rodo de carro alugado há 5 anos, pago R$ 3.000 por mês para a Localiza, rodo num Ônix Plus 2025 — inclusive peguei um agora zero quilômetro. E eu não tenho despesa nenhuma. Como rodo no Centro-Sul de Belo Horizonte, preciso ter um carro melhor para pegar passageiros melhores. Esses passageiros trazem vantagens melhores e me dão uma rentabilidade melhor.

Porque você é motorista do Black também? Ou só Comfort?

Boechat: Não, só Comfort. Só Comfort, e às vezes ganho mais do que o Black, tá? Porque, entendeu, onde eu rodo, eu tenho minha estratégia de horário, conheço os horários da cidade. Então eu monto meu plano de negócios todo dia que saio, de acordo com os horários e com os passageiros que eu sei que vou pegar. Como vou muito para o Centro-Sul, sei os horários em que vai tocar muito Comfort, os horários de baixa e os horários em que o Comfort volta.

E nisso, eu vou mesclando com a reserva que a Uber me manda, com Uber Pet, com entrega. É uma somatória de fatores que, no final, se você pratica, acaba te dando um ganho bastante significativo. Olha aqui a minha camisa. Mandei fazer, tenho 10 camisas, só trabalho assim. Por quê? Porque isso me traz credibilidade. Um cliente chega, vê um carro limpo, você bem vestido, com uniforme… A gojetinha pinga!

Então isso tudo faz você ter um ganho muito, muito bom. Eu não me arrependo de ter ido para a Uber, muito pelo contrário. O que eu vejo de parâmetro hoje é um monte de gente falando mal da Uber. A Uber é um excelente negócio. Hoje, eu faço quatro viagens por ano. A cada três meses, estou indo para o Rio, indo para Vitória, indo para um sítio. Por quê? Porque eu tenho uma gestão financeira muito enxuta, muito bem feita, muito bem pontuada. É o que os outros não têm.

Eu fico vendo nego falando mal, dizendo que vai acabar, que não sei o quê… Gente, vamos ser positivos, vamos ter expertise, vamos saber trabalhar. Se ela te exige 60% de aceitação, 10% de cancelamento, 4.85 de avaliação e 1.400 pontos, entrega isso para ela! É igual numa empresa: você tem que entregar resultado para ganhar promoção, para subir. A Uber funciona do mesmo jeito. Se eu não entrego resultado, eu não sou promovido. Se eu não sou promovido, eu sou penalizado. Minha taxa é mais alta, minhas corridas são as piores, as que menos vão me rentabilizar — porque eu não subi de nível, eu continuo lá embaixo.

E ela valoriza quem está lá em cima. Igual na sua empresa: quando você entrega um resultado diferente, seu chefe te valoriza, te promove, te coloca num cargo acima. E muita gente ainda não entendeu isso. Entregue o que ela quer que sua taxa de repasse vai ser menor. A minha taxa como Diamante é 10%, 12% ao mês. Tem gente que paga 30%, 40%. Por quê? Porque ainda é Uber Azul, né?

Hoje, está mais fácil virar a chave e subir de nível do que era antes. Meus primeiros seis meses foram terríveis. Eu apanhei muito para chegar no nível que estou hoje. Eu não conhecia nada, peguei um carro emprestado de um amigo, paguei o aluguel para ele até aprender todas as ferramentas que podia usar na Uber. Quando virei Diamante, em 1º de dezembro de 2019, fui para a Localiza pegar meu carro. Por causa desses diferenciais.

E o que eu vejo? Os influenciadores não passam isso para nenhum motorista. Pegam sempre um motorista que teve algum problema e, em cima daquilo, geram conteúdo: “Olha, vai acontecer isso”, “Olha o que está acontecendo”, “Olha isso aqui…” Aí, o que isso causa no mercado? Um monte de motorista sai, um monte entra, um monte desiste. Um monte de motorista não investe o potencial dele para crescer na plataforma — para o bem dele!

Entendi. Mas agora, falando um pouco de custos… Você falou que seu carro é alugado. E quanto você gasta com gasolina por dia?

Boechat: Eu gasto R$ 100 de combustível por dia. Com o cashback de 10%, gasto R$ 90.

Por você ser motorista Diamante, né?

Boechat: Exatamente, exatamente.

E agora, sobre números… Você consegue faturar quanto no final do mês?

Boechat: De R$ 12.000 a R$ 14.000.

Tirando o aluguel e a gasolina, fica em torno de quanto?

Boechat: Entre R$ 7.000 e R$ 8.000.

Em 2024 faturei $ 132.000. Em 2023 foi R$ 140.154. Uma média mensal de R$ 11.000. Em 2022 foram R$ 143.305, uma média de R$ 11.194 por mês, com crescimento de 28% em relação a 2021. Aqui na pandemia, em 2020, R$ 74.000. E em 2021, R$ 112.000.

E minha próxima pergunta: você falou que é motorista desde agosto de 2019. Muitos motoristas dizem que a situação piorou de lá para cá, que as tarifas continuam as mesmas, mas os custos aumentaram. Qual sua opinião? Você concorda com isso?

Boechat: Concordo. Os custos aumentaram. Mas o que o motorista faz para reverter isso? Se você não subiu de nível e seu custo aumentou, automaticamente seu ganho diminui. Porque você não tem uma ferramenta para alavancar seu ganho.

Eu tenho minha ferramenta: sou motorista Diamante. Tenho os prêmios da Uber, tenho cashback, Uber Reserva, e quatro situações dentro do aplicativo que me dão rentabilidade. Mesmo pagando aluguel. Eu comecei pagando R$ 1.400. Hoje pago R$ 3.000. O que eu tive que fazer? Mudar minha estratégia. Estudar uma forma dentro do aplicativo que me rentabilizasse.

A maioria dos motoristas não faz isso. Continua com a mesma ação. E se você continua com a mesma ação, não muda o resultado. Ele vai continuar do mesmo jeito.

Naquela época, você tem ideia de quanto você fazia em comparação com agora?

Boechat: Vamos pegar aqui… Em 2019, eu não anotava ainda, porque foram só 5 meses. Mas em 2020, fiz R$ 74.000. Em 2024, estou fazendo R$ 134.000.

É um pouco mais de 80% em relação ao que você fazia em 2024?

Boechat: Exatamente. Por quê? Porque eu monto meu plano de negócio, faço minha estratégia. Se a gasolina aumentou, eu tenho que procurar um posto mais barato. E tenho que me manter Diamante. A gasolina em Belo Horizonte já custa R$ 5,56 o litro. Menos 10%, eu pago R$ 4,90.

Minha próxima pergunta é em relação a outros apps. Eu acredito que o seu app favorito de trabalhar seja a Uber, mas você trabalha com outros?

Boechat: Não. Somente a Uber.

Mas você já tentou usar a 99?

Boechat: Sim, sim. Já tentei usar a 99 e já tentei usar a InDrive. Não gostei, principalmente por causa do público — do nível dos passageiros da 99 e da InDrive. A Uber é mais seletiva. O passageiro hoje, quando fala de aplicativo, ele não fala “aplicativo”, ele fala “Uber”. É diferente, entendeu?

Então eu tenho que continuar onde está sendo lembrado, onde está sendo falado. Eu vou com a Uber. Eu sou parceiro da Uber. Eu não consigo ter três esposas, só consigo ter uma. Então, se você roda em três aplicativos, acaba ganhando dinheiro com nenhum deles. Aí acontece o quê? Um cancelamento muito alto. O cara cancela uma corrida em um por causa de dois reais a mais no outro aplicativo e, nisso, a taxa dele no melhor fica prejudicada — e ele continua apanhando nos três aplicativos. Porque ele não se dedica a nenhum deles. Não existe dedicação. Se você não tem dedicação, continua do mesmo jeito. Você não sobe em nenhum.

E minha próxima pergunta: para você, hoje, qual é a maior dificuldade do motorista de app?

Boechat: O trânsito. Terrível. O trânsito de Belo Horizonte. Agora, quanto a nível de passageiro, eu não tenho nenhum tipo de problema. Nunca tive, porque eu não faço corrida em dinheiro. Minha função “dinheiro” fica bloqueada no aplicativo. Eu só faço corrida em cartão.

Então, a nível de passageiro, meu público está dentro de um raio que, por ser Diamante, eu posso escolher no aplicativo a região em que trabalho. Isso me dá um upgrade bastante interessante, porque eu rodo somente onde o dinheiro fortemente circula. Eu não pego corrida com passageiro que quer fazer o mais barato. Eu pego o passageiro que quer conforto. Que quer qualidade no atendimento. Que quer entrar num carro legal e não se importa de pagar mais por isso. Esse é o diferencial.

Agora, qual corrida você não aceita de jeito nenhum? 

Boechat: Sou seletivo nas áreas de atuação. Como eu rodo somente Centro-Sul, não costumo sair de lá, entendeu? Posso dizer que 95% das minhas corridas ficam dentro do Centro-Sul. Faço entre 25 e 30 corridas por dia e, dependendo do valor da rentabilidade, eu pego corridas para o aeroporto.

Mesmo assim, só pego para o aeroporto porque, por ser Diamante, eu não fico no estacionamento. Tenho prioridade em cima de todos. Então, chego no aeroporto, deixo o passageiro, pego outro e desço. E são 42 km do aeroporto de Belo Horizonte. É longe do centro.

Para você, ainda vale a pena ser motorista de aplicativo? E quais dicas você daria para quem está começando?

Boechat: Vale, sim. A dica é: estude o aplicativo. Entenda o aplicativo. Conheça o aplicativo. Não vá pelo que o outro falou ou pelo que o outro quer que você faça. É você e o aplicativo ali, só vocês dois trabalhando. Quanto mais você conhecer, quanto mais conhecimento tiver dele, melhor será a sua rentabilidade.

Motorista de aplicativo hoje — motorista da Uber — tem um excelente ganho, desde que tenha disciplina, tenha meta, tenha estratégia e tenha gestão financeira. E entenda que a rentabilidade dele está diretamente atrelada à subida de nível dentro da plataforma. Quanto mais alto ele estiver — Ouro, Platina, Diamante — melhores são os ganhos. A Uber vai mandar as melhores corridas para ele, porque ele é um dos motoristas mais bem classificados.

Você é reconhecido dentro do aplicativo do passageiro. Quando ele pede a corrida, a Uber manda uma mensagem: “Carlos é um dos nossos motoristas mais bem avaliados da região.” Isso já te dá um “up” muito grande. Então, se um motorista está começando hoje, estude o aplicativo. Não vá pelo que o outro fala ou pelo que o outro acha que vai dar certo. Só você pode mudar sua realidade.

Você tem que ter essa disciplina de estudar e conhecer o aplicativo. Quando você entra numa empresa — qualquer que seja o ramo — a empresa te dá um treinamento, te ensina a trabalhar. A diferença, no aplicativo, é que o treinamento tem que ser nosso. Eu tenho que ter o auto-treinamento. Tenho que conhecer. Vou buscar a informação. Não vou perguntar para ninguém, eu mesmo busco, estudo, vejo como funciona e coloco na prática. Testo.

Cada vez que o aplicativo faz uma atualização, eu testo essa atualização. Vejo qual a melhor maneira de aplicar, se ela vai ser rentável para mim ou não, onde ela vai funcionar. Isso tudo faz parte do nosso negócio hoje. Nosso negócio é conhecimento. Se você não conhece aquilo que faz, não consegue ter resultado — em qualquer profissão.

Você tem que estudar, tem que conhecer. E tem que gostar. E muito. Eu não faço Uber por obrigação nem por bico. Eu trabalho porque eu gosto. Sinto prazer. Faço com paixão. Todo dia, para mim, é um desafio novo, porque todo dia tem que ter uma estratégia diferente. Depende do tempo, depende do trânsito.

E quando o trânsito está muito ruim e você não pode ir para o Centro-Sul? Tem que fazer bairro a bairro?

Boechat: Sim, para o Centro-Sul, tem que fazer bairro. Porque se eu for para o Centro-Sul, vou ficar preso em engarrafamento. Então, tem que saber os horários desses bairros — horário de entrada de escola, saída de escola, entendeu? O que circula ali, se tem shopping, se não tem… Tudo isso para eu montar minha estratégia de trabalho. Se está chovendo, se não está…

Então, o motorista hoje que faz isso — que são poucos — tem uma rentabilidade bastante interessante e não larga isso para executar outra coisa. Por que eu sairia, se estou ganhando mais do que quando era CLT? Hoje eu tenho MEI, entendeu? Sou todo certinho em cima disso. Porque eu dependo disso. Isso é minha vida. É o meu trabalho. É o meu business, entendeu? Então, se é minha empresa, eu tenho que cuidar bem dela.

Você já deve ter ouvido falar de um monte de carro por aí quebrado, motorista andando de bermuda, de boné, camiseta… Como é que você vai trabalhar assim? Alguma empresa que você já trabalhou te deixou entrar assim? Ou o seu chefe permitiu você trabalhar de bermuda, chinelo de dedo, boné? Não.

Então, você tem que ter consciência de que aquele carro ali é o seu business. E quem está entrando ali dentro é o seu cliente. Seu cliente é o seu dinheiro. Então, tem que tratar bem dele. Tem que tratar bem do seu negócio, do seu business, para você ter sucesso no final do mês.

O que importa é a última linha no final do mês. Você olhar e ver: “Faturei R$ 12.000. Agora, quais foram as despesas que eu tive?” Gasolina, alimentação, aluguel do carro… ou, se o carro é seu, tem que saber qual é o seu valuation, quanto ele custa, qual o seu markup, o que ele vai te rentabilizar, qual a porcentagem. Seu dinheiro está ali.

E muita gente não faz essa conta. Coloca gasolina, liga o aplicativo… Aí o outro fala: “Tá alugado, faz isso”, o outro: “Faz aquilo…” E acontece o que está acontecendo hoje: a grande maioria dos motoristas reclamando da plataforma.

Os que não reclamam são aqueles que agem certo. Que trabalham certo. Que não vão na cabeça dos outros. Que estudaram o aplicativo, aprenderam a trabalhar no aplicativo. Sabem ganhar dinheiro e tirar o melhor do aplicativo — que é um excelente negócio. A partir do momento que você tem a consciência de que precisa subir de nível, precisa ser promovido, aí sim vai ter as melhores condições.

Entendi. E agora, uma curiosidade: você costuma fazer particulares?

Boechat: Eu não faço corrida fora do aplicativo. Primeiro, porque se eu cair numa brecha, posso ter o carro apreendido. Segundo, posso sofrer um assalto, porque não tem rastro.

Você gostaria de acrescentar algo mais, algo que acha que não falamos na nossa conversa?

Boechat: Não, achei muito interessante. Gostaria, entendeu, que os motoristas tivessem a consciência de que precisam estudar o aplicativo. Enquanto eles não conhecerem o aplicativo, não vão ganhar dinheiro. Vão continuar nessas reclamações e escutando esses influencers que só colocam notícia ruim na cabeça de todo mundo. Eu não sigo ninguém.

Eu sigo o principal deles todos: chama-se Uber. É ela que me rentabiliza. É ela que me dá condições de ganho. Então, é ela que eu tenho que escutar. É ela que eu tenho que praticar. Se ela me coloca as melhores práticas a seguir, eu tenho que escutar.