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A empresa que cria endereços para entregar na porta de favelas e áreas de difícil acesso

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Startup naPorta foi lançada em 2020 e já está presente em mais de 20 favelas do Rio de Janeiro e São Paulo

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 6,6 milhões de domicílios e mais de 16 milhões de pessoas vivem em favelas espalhadas pelo Brasil. Só na Rocinha, que possui a segunda maior população em comunidades do país, vivem cerca de 67 mil pessoas. Há anos, essas comunidades sofrem com falta de investimento em infraestruturas básicas e necessárias para serviços tidos como essenciais no dia a dia, como por exemplo, entregas de mercadorias.

Criado em 2022, o naPorta possibilita que entregas sejam feitas em áreas em que, anteriormente, os serviços eram impossibilitados de acontecer. Basicamente, o naPorta conecta entregadores locais a bases de triagem de produtos instaladas nas áreas de entrega, fazendo com que as encomendas que chegam nesses destinos possam ser entregues, literalmente, na porta do cliente de forma rápida e prática. O serviço foi acelerado pelo Google for Startups e teve o apoio da ONG Gerando Falcões.

“O entregador é da própria região em que é realizada aquela entrega, ele conhece o lugar e sabe as melhores rotas e como fazer para que aquela encomenda chegue mais rápido ao cliente final”, afirma Katrine Scomparin, co-fundadora e diretora de Marketing do naPorta.

Disponível para 20 locais no Rio de Janeiro e São Paulo, o naPorta começou a operar na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Atualmente, a plataforma conta com 100 entregadores cadastrados e mais de 100 mil entregas realizadas em todo o país. Entre algumas varejistas atendidas pela plataforma estão a C&A, Riachuelo, iFood e Americanas.

Ponto de coleta e triagem na Favela dos Sonhos em São Paulo | Foto: Divulgação/naPorta

O acesso às comunidades é feito através da parceria entre instituições não governamentais e a equipe do naPorta. Após a viabilização do projeto, começa a instalação de áreas de armazenamento de remessas, concebidas através de aluguel de espaços ociosos de comércios e casas da localidade. Em seguida, as agências são construídas. Além de serem pontos de coleta responsáveis pela triagem de correspondências, elas também possuem espaços para descanso e apoio aos entregadores, com climatização, água, banheiros, internet, tomadas e, em alguns lugares, bicicletas para aluguel.

Remuneração

Os entregadores da plataforma atuam no modelo MEI (Microempreendedor Individual). A profissionalização do serviço é um dos diferenciais do naPorta, e os entregadores passam por treinamentos e preparos antes de começarem a trabalhar junto à empresa. Além disso, o entregador tem um raio limitado de atuação, pacote de benefícios e plano de carreira dentro do naPorta.

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Entregadores ganham cerca de 40% a 50% dos valores da entrega | Foto: Divulgação/naPorta

“Nós investimos no entregador, queremos que ele seja valorizado aqui. Nós treinamos, criamos planos de carreira e profissionalizamos essa pessoa.”, afirma Scomparin.

A atenção ao entregador também passa pelas oportunidades de crescimento e aprimoramento, é o caso do líder de operações da base da Cidade de Deus, Wallace Batista. O ex-entregador do naPorta dividia seu tempo entre entregas e a faculdade EAD de logística que ele cursa. Um dia, a vaga de líder de operações da agência ficou disponível e Wallace foi abordado e contratado quase que de imediato para a função.

A remuneração dos entregadores é baseada no número de entregas realizadas. Cerca de 40% a 50% dos ganhos da entrega são convertidos aos entregadores. Para aumentar sua renda, o entregador também pode escolher realizar as entregas nas adjacências das áreas atendidas originalmente pela agência.

Um novo endereço

Quem cruza as ruas da Favela dos Sonhos em São Paulo se depara com placas azuis, todas padrões com números e letras alternadas. O que para muitos pode parecer só um número maluco em uma placa, para os moradores aquilo representa muito mais: aquela casa possui um endereço.

O endereçamento de residências ajuda pessoas que não possuem CEP ou endereço oficial específico daquele local, o que é muito comum em favelas, a terem uma localização definida. O endereçamento cria um “CEP Digital”, que é feito através de coordenadas geográficas cedidas pelo Google, que gera uma Hash, um código criado através do cruzamento de longitude e latitude, esse código passa a ser o endereço daquele lugar.

“Essa medida, além de ser paliativa para ajudar entregadores a realizarem o seu serviço, também é de extrema importância para que, no âmbito social, pessoas passem a ter acesso aos serviços e não serem excluídas socialmente por conta da falta de endereço”, lembra Katrine.

Esse código pode ser utilizado como endereço de entrega, endereço para acionar serviços de emergência, comprovantes de endereço e até ser utilizado em mapas e aplicativos de navegação, como o Google Maps. Hoje, esse serviço já funciona na Favela dos Sonhos, onde 100% dos endereços foram mapeados e emplacados.

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A startup nasceu da vontade de empreender e criar um modelo de negócio capaz de transformar a vida de pessoas que moram em favelas e lugares de difícil acesso no Brasil. A ideia apresentada inicialmente pelos fundadores da plataforma não foi aceita por investidores de um programa de aceleração de startups, que deram 30 horas para que fosse apresentado um novo projeto. Foi aí, que o fundador Sanderson Pajeú, convocou Katrine Scomparin, Leonardo Medeiros e Rodrigo Yanez, co-fundadores da plataforma, para criarem um novo produto de impacto. Dessa reunião nasceu o “naPorta”. 

Da esquerda para direita: Rodrigo Yanez, Sanderson Pajeú, Katrine Scomparin e Leonardo Medeiros, sócios do naPorta | Foto: Divulgação/naPorta

A plataforma iniciou suas operações no Rio de Janeiro, em uma estratégia conjunta. Atualmente, só no Rio de Janeiro, o naPorta conta com 16 bases, como Cidade de Deus, Rio das Pedras, Gardênia, Terreirão, Mangueira, Rocinha, Vidigal, Jacaré, Tuiuti, Andaraí, Tirol, Curicica, Bosque Montserrat, Cesar Maia, Comunidade do Fontela e Beira Rio.

Em quase 2 anos de atuação, o serviço não possui reclamações ou ocorrências de furto ou roubo de encomendas.

“A exclusão desse serviço nas comunidades do Rio de Janeiro é muito evidente, e isso também acontece com as comunidades em São Paulo. Elas sofrem com a falta desse serviço, mesmo se entrelaçando com as áreas nobres”, afirma Katrine.

De acordo com Katrine, o próximo passo é consolidar o serviço no sudeste do país, depois expandir para Brasília e, em breve, para cidades do nordeste brasileiro. Ela reforça que o naPorta não atua somente em favelas, embora esse seja o público-alvo, e busca expandir suas atividades para cidades do interior, comunidades ribeirinhas e regiões rurais com as mesmas dificuldades.

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Redação 55content

O 55content é o maior portal de jornalismo sobre aplicativos de transporte e entregas do Brasil.

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