Os aplicativos de transporte têm se tornado opções mais acessíveis e interessantes também para a chamada classe C.
A pandemia do coronavírus trouxe diversas mudanças sobre todos os setores da sociedade. Talvez em nenhum outro momento da história recente do Brasil as desigualdades sociais tenham ficado tão em evidência quanto agora.
A própria mobilidade urbana teve que se reinventar para continuar funcionando e sendo relevante em meio a um período de tantas incertezas. Foram mudanças drásticas no fluxo de pessoas, nas dinâmicas de trabalho e na própria demanda por serviços de transporte.
O transporte público brasileiro foi mais uma vez centro de debates e polêmicas. Eram diários os relatos de ônibus, metrôs e trens lotados, sem qualquer prevenção ou distanciamento social, tornando-se ambientes propícios para a proliferação do vírus.
O trabalhador das classes C e D, que não tem na maioria das vezes a oportunidade de exercer um trabalho remoto nos modelos de home office, se viu a obrigado a abdicar da própria segurança para garantir o sustento.
Com seu meio de obtenção de renda diretamente ligado à necessidade de sair de casa todos os dias, o trabalhador das classes mais baixas se viu obrigado a buscar alternativas que promovessem mais segurança.
Aumento no uso de aplicativos
Foi nesse contexto que muitos recorreram ao setor privado da mobilidade urbana.
Os aplicativos de transporte não são nenhuma novidade no país, pelo contrário, antes da pandemia a modalidade já crescia e se apresentava como a solução dos problemas do usuário em momentos pontuais e situações mais específicas.
Mas a situação agora é diferente: seu uso antes frequente passou a ser de fato cotidiano. Pelo caráter emergencial da situação em qual o país se encontra, pode-se dizer que o trabalhador foi forçado a incluir o uso de aplicativos de transporte na sua rotina.
Segundo pesquisa do Datafolha, divulgada no final de maio pelo Estadão, 31% das pessoas da classe C começaram a utilizar carros de aplicativo na pandemia, sendo que na classe A/B o percentual foi de apenas 14%.
Os aplicativos, é claro, não perderam tempo e se adaptaram a essa nova demanda que surgiu. Além de diversas medidas para garantir a saúde de motoristas e passageiros e oferecer preços acessíveis, passaram a observar mais atentamente a forma como a classe C fazia uso do transporte e planejar medidas a partir disso.

Integração com o transporte público
Uma dos diferenciais percebidos pelos aplicativos foi que a classe C tendia a realizar corridas menores, utilizando o aplicativo como forma de ligação entre diferentes modais de transportes.
Ao invés de realizar uma corrida que cobre todo o trajeto da casa até o trabalho, é comum usar o aplicativo apenas como um intermediário, indo de casa até uma estação (primeira milha) ou de um ponto de ônibus até o destino final (última milha).
Por isso, empresas como a 99 têm voltado sua atenção para as periferias, áreas que concentram a maioria das zonas de habitação da classe C.
A percepção de que um aplicativo de transporte, pode sim, fazer parte do sistema de mobilidade como um todo sendo efetivo na conexão entre modais, representou um importante crescimento de mercado para a empresa.
Dados da 99 de São Paulo indicam um crescimento de 18% em viagens com destino a terminais de ônibus, trens e metrô.
E, ao mesmo que tempo que os apps devem incluir cada vez mais pessoas no transporte por app, precisam trabalhar para aumentar os ganhos dos motoristas, o que nem sempre é uma tarefa fácil.
Conclusão
Contudo, essa visão não é uma exclusividade de um grupo ou empresa, mas sim um tema mundial da área da mobilidade.
No Summit Mobilidade 2021, maior evento do setor no Brasil, realizado em Maio, o impacto que a mobilidade pode ter na qualidade de vida e na estrutura de uma cidade foi um dos principais assuntos tratados.
A tendência é que no período pós pandemia, os aplicativo de transporte continuem se aproximando cada vez mais da periferia e de públicos que antes não eram prioritários.