Com 8 anos de experiência nos aplicativos, Mateus Lima é motorista e produtor de conteúdo digital em Fortaleza (CE). Apesar de não depender exclusivamente da renda das corridas — já que também comercializa produtos próprios e mantém parcerias nas redes sociais —, ele segue atuando diariamente nas ruas, tanto de carro quanto de moto. Em entrevista ao 55Content, Mateus detalha os bastidores da rotina, comenta os desafios de lidar com tarifas elevadas, custos variáveis e a falta de previsibilidade nos ganhos. Com visão prática e crítica, ele fala sobre as mudanças no setor e como tenta manter o equilíbrio entre produtividade e sustentabilidade no trabalho.
Há quanto tempo você é motorista e como começou nessa profissão?
Mateus: Comecei nos aplicativos, no carro, em 2017. Fui experimentando até encontrar o que mais se encaixava com meu perfil de trabalho. Sempre fui uma pessoa que gostou da liberdade — não necessariamente pelos ganhos, mas pela autonomia. Já trabalhei em regime CLT, aprendi bastante, mas sempre valorizei mais poder fazer meu próprio horário. Foi isso que me levou aos aplicativos.
Como acontece com muitos motoristas, no início não me adaptei tão bem. Fiquei naquele vai e volta. Não tinha controle financeiro, trabalhava com carro alugado, e acabei me enrolando. Hoje em dia, com mais organização, consigo trabalhar tranquilo, ter melhores resultados e sigo firme nos aplicativos.
E hoje você tem um carro próprio?
Mateus: Não. Eu tinha um carro, mas preferi vender. Atualmente trabalho com carro alugado. Também trabalho de moto, inclusive acho que hoje o principal conteúdo que produzo é voltado para moto, mas sigo também no carro.
Quais são os seus gastos mensais? Já que você precisa tirar para combustível e aluguel do carro também.
Mateus: Depende da semana. Eu costumo fazer esse cálculo semanalmente, porque meu pagamento também é semanal. No caso do aluguel, foco nos números semanais. Meus gastos variam entre 40% a 60% do faturamento. Na semana passada, por exemplo, ficaram entre 40% e 45%.
Você faz Uber, 99, ou ambos? E tem outra fonte de renda além dos aplicativos?
Mateus: Hoje, basicamente, trabalho só com Uber. Na moto, às vezes uso a 99, mas é bem raro. Tenho conta em outros aplicativos, mas dou preferência à Uber.
Minha renda não vem só dos apps. Desenvolvi certa influência nas redes sociais, vendo alguns produtos de fabricação própria e tenho parcerias. Sou influenciador da marca Eagle e da Google, então tenho esse ganho extra fora dos aplicativos.
Como é sua rotina? Quantas horas por dia você trabalha? Tira folga algum dia da semana?
Mateus: Como também produzo conteúdo, minha rotina é um pouco flexível. Tenho metas com os aplicativos, mas não sigo horários rígidos. Raramente faço corrida particular. Costumo folgar na terça ou quarta, mas isso depende da demanda de conteúdo. Não tenho um dia fixo de descanso — depende da semana.
Você tem uma meta diária? Algo como “só volto pra casa depois de atingir tal valor”?
Mateus: Sim, tenho uma meta, mas sou flexível. Se preciso dar mais atenção para outras fontes de renda, reduzo a meta até quinta-feira e compenso no fim de semana, quando tenho mais tempo para trabalhar. Minha meta diária costuma ficar entre R$ 300 e R$ 500.
Você prioriza ganhos por hora ou por km?
Mateus: Não priorizo um único critério. O ganho por quilômetro é mais vantajoso em termos de custo, porque quanto menos rodo, menos gasto. Mas não é uma regra. Posso rodar menos e ficar mais tempo na rua. Então, tento equilibrar os dois. Estabeleço um limite de gasto com gasolina e faço o planejamento em cima disso — tipo: “Com X reais de combustível, quanto eu consigo faturar hoje?”.
Você se lembra qual foi o maior valor que já fez em um mês? E como conseguiu isso?
Mateus: Acredito que foi algo em torno de R$ 8.000 e pouco. Nos últimos 30 dias, cheguei a R$ 9.000 e uns quebradinhos. Procuro sempre fazer, no mínimo, R$ 8.000 de faturamento por mês.
E quanto disso fica para você, tirando os gastos?
Mateus: De R$ 3.000 a R$ 4.000 líquidos, varia. Esse valor hoje é confortável para mim, porque tenho outras fontes de renda. Talvez em outra realidade não fosse suficiente, mas para mim, hoje, funciona bem.
Teve algum dia que você faturou mais?
Mateus: Sim, esse último Dia das Mães. Nesse dia, pelo menos para mim, a Uber me ajudou bastante. Ela lançou uma promoção no fim de semana: 90 corridas para ganhar R$480. Consegui finalizar e vieram esses R$ 480, e ainda teve a opção do Turbo. Duas vezes por dia, ela liberou o Turbo para mim, então o resultado foi muito bom. Fiz R$ 1.022, se não me engano — foi o melhor resultado que já tive nos aplicativos até hoje.
Como você faz com o abastecimento? Abastece antes de sair, depois ou enche o tanque e vai?
Mateus: Depende. Se no dia anterior sobrou gasolina e ainda tenho uma autonomia boa — tipo 100 km —, procuro usar essa quilometragem antes de abastecer. Às vezes, ela é suficiente para bater a meta do dia. Depois, vou abastecendo em valores fixos, geralmente R$100 por vez.
E quantos quilômetros você costuma rodar por dia?
Mateus: Entre 100 e 150 km, mais ou menos.
E quanto às tarifas dos aplicativos?
Mateus: É complicado, porque não temos mais um valor fixo. Perdeu-se o controle. Seria ótimo termos um valor fixo por hora e por quilômetro. Isso tornaria os cálculos e a previsibilidade muito mais fáceis.
Hoje, a variação é absurda. Já aconteceu de fazer uma corrida no UberX, de Beira-Mar até o aeroporto aqui em Fortaleza, que normalmente custa R$ 18 a R$ 20, sair por R$ 44, com o passageiro pagando quase R$ 80 — sem tarifa dinâmica. Então, a falta de padrão é um problema.
Você se considera um motorista seletivo? Qual tipo de corrida você considera boa ou ruim?
Mateus: Sim, sou bem seletivo. Minha taxa de aceitação é baixa, e a de cancelamento é um pouco mais alta. Mas sou eclético. O que considero ruim é uma corrida que demora muito para ser feita. Mesmo que pague um pouco menos por quilômetro, se pagar bem por hora e for rápida, vale mais a pena para mim. No carro, o custo de combustível pesa mais. Já na moto, consigo me livrar de engarrafamentos com mais facilidade.
Então, prefiro corridas curtas em horários de pico, que sejam rápidas e valham a pena por tempo. Corridas longas e mal pagas são as piores.
Como você alterna entre carro e moto? Tem dias certos para cada um?
Mateus: Hoje, minha escolha entre carro e moto é influenciada pelo conteúdo que produzo. Às vezes passo semanas rodando só de moto, outras só de carro. Neste momento, estou rodando de carro há mais de um mês — minha moto está até com a bateria descarregada. Então, essa liberdade vem muito da influência digital.
Você acha que ainda vale a pena ser motorista em 2025? Você indicaria essa profissão?
Mateus: Depende da situação da pessoa. Se ela é CLT e ganha um salário mínimo, eu diria que vale a pena. Agora, se é CLT e ganha R$ 3.000, por exemplo, eu não indicaria virar motorista. A liberdade é importante, mas o CLT também tem seu valor. Você aprende muito dentro de uma empresa, não é só uma questão de dinheiro.
E para fechar: alguma dica para motoristas que acompanham influenciadores, veem opiniões diversas sobre as plataformas — alguns falam bem, outros mal… o que você diria?
Mateus: A melhor dica é procurar a melhor forma de trabalhar com o que você tem no momento. Sempre dá para tirar algo de bom da situação.
Nem sempre é esse “bicho de sete cabeças” ou essa “escravidão moderna” que muitos falam. Toda profissão tem dificuldade.
Se você se aperfeiçoar, buscar ferramentas certas e aprender o seu jogo, consegue bons resultados. E se não está dando certo, se você não se adapta, tudo bem. Segue o baile, procura outra coisa — e está tudo certo.