Guilherme Santos atua como motorista de aplicativo em Goiânia há quase três anos, conciliando a atividade com os estudos para concursos públicos. Trabalhando principalmente na categoria Uber X, ele adota uma rotina estruturada por metas, com foco em horários de pico e no equilíbrio entre ganho por quilômetro e por hora. Seu faturamento diário varia entre R$ 300 e R$ 350, podendo ultrapassar R$ 500 em dias de alta demanda.
Além das corridas, Guilherme mantém uma “lojinha” dentro do carro, vendendo desde balas até perfumes — estratégia que, segundo ele, pode igualar ou até superar os ganhos obtidos nos apps. Nesta entrevista, ele detalha como organiza seus custos, maximiza receitas e adapta sua operação às particularidades do mercado local.
Então, Guilherme, minha primeira pergunta é saber um pouco como você se tornou motorista de aplicativo, o que te levou a começar a realizar esse tipo de atividade e há quanto tempo você é motorista?
Guilherme: O que me levou a entrar nesse ramo de motorista de aplicativo foi que eu comecei a prestar concurso para segurança pública. Então, isso é uma forma de trabalhar temporariamente, né? Porque não é um trabalho que eu pretendo manter como fixo a longo prazo. Isso me dá uma flexibilidade de horário, para eu conseguir separar o tempo de trabalhar e o tempo de estudar. É mais por conta disso mesmo, por conta da prestação de serviço.
Entendi. E minha próxima pergunta: eu gostaria de saber mais ou menos como é a sua rotina. De que horas a que horas você trabalha? Se você folga em algum dia? Você é guiado por metas? Muitos motoristas voltam para casa depois de faturar 350, 400, 200… Como é essa sua organização?
Guilherme: Bom, isso varia muito conforme a categoria que você trabalha. Talvez você já saiba, mas na Uber existem as categorias X, Comfort e Black. Eu trabalho aqui na capital de Goiânia, Goiás. O meu carro é da categoria X, que é a mais simples. Por ser a categoria que paga menos, mas que tem a maior demanda, eu preciso estar mais tempo na rua. Trabalho com metas porque gosto dessa organização — assim não fica monótono.
Trabalho mais nos horários de pico, que me trazem vantagem, principalmente na categoria X. Esses horários são divididos em três períodos.
O primeiro é das 6h às 9h da manhã, quando todo mundo está saindo para faculdade, trabalho, escolas — existe uma alta demanda. Nessa faixa, é mais vantajoso ficar nos bairros. Aqui em Goiânia, por exemplo, todo mundo vai em direção ao centro, que a gente chama de “miolo” da cidade.
Uma corrida mínima aqui é cerca de R$ 5,84. Mas nesse intervalo, com a dinâmica, pode chegar a R$ 45, R$ 50 ou até R$ 60. Só que para mim, não é vantajoso ir ao centro, porque lá a demanda cai e o trânsito complica. Por isso, fico nos bairros, levando gente para escola, bancos, padarias, professores, etc.
Depois das 9h, a demanda cai. Então, das 9h às 11h, me posiciono próximo a locais com movimentação como centros de saúde, hospitais, clínicas ou terminais de ônibus.
A partir das 11h ou 11h30, me posiciono próximo da região central, onde as pessoas saem para almoçar. Fico até às 14h mais ou menos. É o segundo pico do dia. Depois disso, uso a mesma estratégia anterior e vou para locais com menor demanda.
O terceiro pico vai das 15h30 ou 16h até 19h. Nesse horário, fico na região central, pois as pessoas estão retornando para os bairros. Às vezes, dependendo da demanda, volto para o meu bairro, que é uma região com escolas, faculdade e shoppings. Posso continuar trabalhando ali porque sei que há demanda.
Com esses três horários de pico — 6h às 9h, 11h às 14h e 15h às 19h — eu me programo para bater minha meta, que geralmente é entre R$ 300 e R$ 400. Eu foco tanto no ganho por quilômetro quanto no ganho por hora.
Na categoria X, para fazer um valor bruto alto (como R$ 400, R$ 450, até R$ 500), é possível, mas eu preciso ficar mais tempo na rua. Então, a maioria tenta equilibrar ganho por quilômetro com ganho por hora.
Por exemplo, se o ganho por hora for maior, você fica menos tempo na rua. O pessoal não foca tanto no valor do quilômetro — o que importa é quanto rende por hora. Aqui, o quilômetro paga, em média, R$ 1,50. Em horários de baixa demanda, pode cair para R$ 1,20 ou até R$ 1,10.
Em baixa demanda, prefiro manter foco no ganho por hora. Muitos motoristas evitam pegar corrida abaixo de R$ 1,50, mas às vezes é melhor pegar essas do que ficar parado ou ir para casa.
Nos destaques da minha página (de onde você me encontrou), eu mostro que, mesmo pegando corridas com valor baixo por km, às vezes consigo R$ 30 por hora. No final do dia, ainda consigo bater R$ 2 por km. Meu resultado não é super alto, mas também não é baixo — fico entre R$ 300 e R$ 400.
Fora isso, eu tenho também minha lojinha, onde vendo perfumes, batons e maquiagens. São produtos baratos, mas com bom giro. Às vezes, em uma corrida mínima de R$ 5,80, se eu vendo algo com lucro de R$ 5, já faço R$ 10 naquela corrida. Isso aumenta o valor final da viagem.
Um perfume de R$ 50, R$ 60 vendido durante uma corrida de 2 km, transforma essa corrida em uma corrida Black. Por isso, não desprezo as corridas pequenas — elas me ajudam por causa da lojinha e pagam melhor por km.
Cada motorista tem sua estratégia. Alguns focam só no ganho por hora e nem olham o km. Pode pegar 30 km e ganhar R$ 25, ou andar 10 km e ganhar R$ 7 em uma rodovia, por exemplo.
Tem gente que começa às 6h da manhã e bate a meta até às 14h, 15h ou 16h. Mas às vezes roda 250 km para isso.
Eu tento equilibrar os dois. Rodo 150 ou 160 km e ganho R$ 300 a R$ 350 — isso dá de R$ 1,90 a R$ 2,00 por km. Meu ganho por hora fica em torno de R$ 35 a R$ 37, às vezes cai para R$ 32.
Se meu ganho por hora é menor, é porque fiz um bruto maior — como R$ 400 ou R$ 450, ficando mais tempo na rua.
Quando bato R$ 400 a R$ 500 até umas 15h ou 16h, meu ganho por km pode cair para R$ 1,40 ou R$ 1,50 — ou seja, rodo mais.
Basicamente é isso. É muita informação, mas na minha categoria (X), é preciso fazer escolhas. Ou você foca em ganho por hora ou por km. Se tentar fazer os dois ao mesmo tempo, uma das contas não vai fechar. Ou você escolhe um, ou escolhe o outro.
Entendi. E assim, deu para perceber que essa venda, né, que você falou — de perfumes, de chicletes — acaba sendo bastante lucrativa, né? Faz com que, às vezes, corridas ruins, entre aspas, valham a pena, né?
Guilherme:
Sim, sim, bastante. Muita gente não faz esse tipo de corrida justamente por achar que é pouco: “Ah, vou andar 1 km, mas vou demorar muito para concluir.” Só que eu volto a dizer: essas corridas geralmente pagam bem. A maioria são percursos curtos — 800 metros, 1 km, 3 km — e pagam o valor mínimo de R$ 5,70 a R$ 5,80, o que é relativo, mas muito vantajoso na minha categoria.
Cerca de 90% dessas corridas me pagam entre R$ 2,00 e R$ 3,00 por km, e isso ajuda bastante na quilometragem final do dia. Fazendo várias corridas curtas como essas, consigo fechar o dia com ganhos por quilômetro de R$ 2,20, R$ 2,30, R$ 2,10 — que é o que muitos querem alcançar.
Tem gente que só aceita corridas acima de R$ 10, mas, na categoria X, dificilmente essas corridas maiores vão pagar R$ 2 por km, a não ser nos horários de pico: das 6h às 9h, das 11h às 14h ou das 16h às 19h.
Fora dos horários de pico, é onde você tem que abrir a mente e, entre aspas, se sacrificar, pegando essas corridas menores. Senão, seu ganho final do dia pode ser limitado. Às vezes a pessoa fala: “Fiz R$ 250, R$ 300 com R$ 2 por km.” Mas se tivesse feito algumas corridas durante a baixa demanda, mesmo que o quilômetro fosse R$ 1,80, talvez teria faturado R$ 40, R$ 50 ou R$ 60 a mais.
Essa diferença de 20 centavos por km pode parecer pouca, mas é ilusória. Eu vejo muita gente focando cegamente nos R$ 2 por km na categoria X, o que nem sempre vale a pena. Conheço motoristas que não abrem mão disso e têm bons resultados mesmo com quilometragem entre R$ 1,50 e R$ 1,70 — e o custo deles com combustível é igual ao meu.
Isso depende muito do carro, do modelo… Para mim, eu sou bem aberto quanto a isso. Em horários de baixa demanda, não me prendo em rejeitar corridas ditas “ruins”. Só que a gente que aceita esse tipo de corrida e depois mostra o resultado nas redes sociais acaba sendo criticado.
A gente posta: “Meu km ficou em R$ 1,50, R$ 1,60, mas fiz R$ 500.” Aí o pessoal ataca: “Por causa de gente assim que a Uber continua pagando desse jeito.” Mas muita gente não entende que isso depende da demanda, do horário, da categoria.
Quem mais critica isso são os motoristas de categoria Black ou Comfort, com carros do ano. Então, a gente da categoria X precisa saber o que está postando, como falar, e explicar por que aceitou aquela corrida. Às vezes é uma corrida que me posiciona perto de um hospital, por exemplo, onde posso pegar uma nova corrida curta com bom valor por quilômetro.
Claro, nem sempre dá certo. Já aconteceu de pegar uma corrida ruim, chegar no destino e não ter mais nada, e eu tive que tirar do meu bolso para me deslocar de novo. Mas é relativo. No final do dia, se você trabalhar direito, com a sua estratégia, dá certo.
Cada motorista tem sua estratégia e precisa ajustá-la de acordo com a própria categoria.
Beleza. Então você se considera um motorista seletivo nas corridas que você aceita ou não?
Guilherme: Sim, eu me considero seletivo. Muita gente não acredita, porque eu sou da categoria X, mas dentro do Uber existe o programa Uber Pro. Eu sou da categoria Platina, a segunda maior. Isso me dá vantagens como prioridade de região.
Por exemplo, se entro no aeroporto, não pego fila. A Uber me coloca como prioridade. Essa ferramenta me dá liberdade de ativar uma preferência de região nos horários de pico. No pico da tarde — das 15h às 19h — eu ativo essa ferramenta para só receber corridas na região central de Goiânia.
Com isso, eu aceito as corridas que vêm porque sei que estão bem pagas, tanto por hora quanto por quilômetro. Às vezes são curtas, tipo 1 ou 2 km, que em horário de pico, ao invés de pagar R$ 5,80, pagam R$ 12, R$ 15… Então compensam muito.
Como estou restrito à região central e sei que logo outra corrida vai aparecer, eu aceito. Então, em horário de pico, não sou tão seletivo — basta estar bem posicionado.
Agora, se eu não tivesse essa ferramenta da categoria Platina, aí sim seria muito mais seletivo, recusaria muitas corridas, tanto em pico quanto fora de pico.
Entendi. Agora falando de faturamento: você tem uma noção de quanto consegue faturar por dia, por semana, por mês?
Guilherme: Por dia, minha meta é entre R$ 300 e R$ 350. Consigo bater isso diariamente, tanto nos aplicativos quanto com o complemento das vendas da minha lojinha — esse é o meu faturamento bruto.
Tenho uma planilha onde registro os ganhos brutos e líquidos, tanto da Uber quanto da lojinha.
Por semana, meu faturamento varia entre R$ 1.700 e R$ 1.800, às vezes um pouco menos. Fico nessa média.
E agora, vamos falar um pouquinho sobre custos, né? Ser motorista de aplicativo é uma atividade cara, envolve carro, e carro é caro. Como você se organiza com combustível? Você abastece todo dia? Quanto abastece? Porque esse é o custo mais sentido, né?
Guilherme: Sim, exatamente. Eu priorizo deixar o tanque cheio diariamente. Quando finalizo meu dia, geralmente por volta de 19h ou 19h30, vou abastecer.
Mas meu dia não termina aí — eu também faço faculdade como preparação para concurso. Então, depois da última corrida, tiro foto do painel do carro, registro a quilometragem e horas trabalhadas para calcular tudo: combustível usado, litros gastos.
Atualmente uso só gasolina, porque já tive problemas com álcool (etanol). Ele ressecou mangueiras, causou desgaste no motor — principalmente se o combustível era adulterado. Depois que passei a usar somente gasolina, os problemas diminuíram.
Uso gasolina há quase dois anos, e nesse tempo só tive um alerta de adulteração.
Meu custo diário com combustível gira entre R$ 90 e R$ 120, dependendo do desempenho e autonomia do carro. Em média, fica entre R$ 110 e R$ 120.
Como trabalho seis dias por semana, meu custo semanal de combustível fica entre R$ 600 e R$ 650.
E Guilherme, minha próxima pergunta é só para confirmar: você comentou mais ou menos quanto você roda por dia? 150 km, mais ou menos?
Guilherme: É, aproximadamente. Mas isso é relativo. Por exemplo, de segunda-feira costumo rodar entre 100 a 150 km, que é um volume diferente de uma sexta-feira. Aqui em Goiânia, sexta é o dia em que o pessoal sai muito para beber — é o famoso “setor”. A partir do terceiro horário de pico, entre 16h e 19h, e principalmente depois das 19h ou 20h, a região central fica bem movimentada.
Então, na sexta-feira, acaba surgindo um quarto horário de pico, no período da noite. Costumo rodar entre 180 e 210 km nesse dia, pois fico na rua até de madrugada — 1h, 2h da manhã. É o dia que mais rodo e também o que mais faturo.
Diferente de uma segunda-feira, em que as pessoas estão voltando à rotina após o final de semana, a sexta é, se não o melhor, um dos melhores dias para trabalhar nos aplicativos.
O dia que mais rodei, no total, foi 240 ou 250 km. Para andar tudo isso dentro da cidade é bem cansativo, mas vale a pena se você souber aproveitar essa quilometragem e entender o limite do seu carro. Dá para faturar bem e equilibrar o custo do desgaste com o faturamento bruto.
Entendi. E você só trabalha com a Uber ou também usa a 99 e o inDrive?
Guilherme: Trabalho com a Uber e com a 99. Com o inDrive e outros aplicativos, não. Já testei o inDriver, mas depois de algumas análises percebi que não valia a pena para mim. Preferi ser seletivo e continuar apenas nessas duas plataformas.
Entendi. Agora, você comentou que começou há pouco tempo, né?
Guilherme: Sim, tem aproximadamente 2 anos, 2 anos e meio. Está quase completando 3 anos.
E só com esses anos de experiência, você consegue dizer como era ser motorista 2 ou 3 anos atrás e como é hoje? Você considera que antes era melhor? Alguns motoristas dizem que os ganhos continuam os mesmos, mas o tempo e os custos aumentaram. Queria saber a sua opinião.
Guilherme: Antes de eu entrar no mundo dos aplicativos, não fui direto. Estudei bastante, assisti influenciadores no YouTube, entrei em grupos de WhatsApp com motoristas que realmente vivem isso no dia a dia, especialmente na minha região. Queria entender como era a rotina, os faturamentos… Eu quase fazia entrevistas como você está fazendo comigo agora!
Na época, os relatos que eu ouvia já mostravam que o faturamento estava demorando mais e que as corridas estavam pagando menos. Aqui em Goiânia, há muitos motoristas — às vezes, dependendo do horário, tem mais motorista na rua do que passageiro.
Acredito que o aplicativo distribui as corridas proporcionalmente à quantidade de passageiros, mas não sei exatamente como funciona esse algoritmo.
Motoristas mais antigos, com quem converso diariamente, dizem que há dois ou três anos a Uber era melhor. Mas nos últimos anos, entrou muito motorista. Às vezes, saem 10 e entram 30, 50 novos. Isso aumenta a concorrência e diminui os valores oferecidos, especialmente em regiões com muita oferta de motoristas. É isso que tenho percebido com base na minha experiência e nas conversas com outros colegas.
Entendi. Isso que você falou sobre ter muitos motoristas e menos passageiros… só como curiosidade, tem um app regional em que o CEO cobra R$ 3.000 para novos motoristas entrarem, justamente para proteger os que já estão cadastrados.
Guilherme: Entendi. Interessante, nunca tinha ouvido isso.
Minha próxima pergunta: qual você considera a maior dificuldade de ser motorista de aplicativo hoje? Alguns falam de dinâmicas falsas, outros que a taxa de cancelamento paga só R$ 5. Qual sua visão?
Guilherme: A maior dificuldade, principalmente na nossa categoria (X), são os valores oferecidos pelas plataformas. Como eu disse, muitas vezes precisamos abrir mão do ganho por quilômetro e adaptar nossa estratégia ao que os aplicativos nos impõem.
A taxa de cancelamento, por exemplo, é baixa. E a 99 peca ainda mais que a Uber nesse aspecto. Por exemplo: outro dia, peguei uma corrida na 99 que deveria durar 10 minutos, mas por causa de um semáforo quebrado e ruas bloqueadas, levei 40 minutos. Fiquei quase uma hora ali, no melhor horário de faturamento, e recebi só os R$ 14,70 inicialmente previstos.
Pedi um reajuste à 99, e a resposta foi: “O valor foi esse e pronto”. Já na Uber, se isso acontece, eles enviam uma mensagem durante a corrida: “Está tudo bem? Precisa de ajuda da polícia?”. E, ao final, você pode solicitar reajuste indicando que o trajeto durou mais, e eles fazem a correção do valor proporcionalmente ao tempo.
Esse tipo de ferramenta faz muita diferença para nós motoristas, e é por isso que muitos dão preferência à Uber. A 99, infelizmente, não oferece suporte tão eficiente.
Entendi. E agora, Guilherme, qual seria a principal dica que você daria para quem está começando? E na sua opinião, ainda vale a pena ser motorista para quem precisa de uma nova renda?
Guilherme: Bom, respondendo de trás para frente: vale a pena sim, se você trabalhar da forma correta. Ser motorista de aplicativo é um trabalho como qualquer outro — pode ser renda extra ou principal, dependendo da situação. Mas você precisa de controle financeiro rigoroso e cuidados com o carro, seja próprio ou alugado.
Quem está começando precisa entender a demanda da cidade, conversar com motoristas experientes da região e fazer uma modelagem do que funciona por ali. Eu mesmo já aprendi coisas com colegas mais experientes e também já ensinei.
A dica é: procure motoristas da sua cidade, descubra qual categoria tem mais demanda e não comece logo na Black se você não tem experiência. Se você começar com um carro do ano, atendendo empresários, mas sem saber se comunicar bem, pode acabar errando.
É uma prestação de serviço, a pessoa está pagando para estar no seu carro. Então você precisa saber atender, se comunicar, ter boa aparência, manter o carro limpo. Isso faz muita diferença.
Por exemplo, já conquistei clientes particulares na categoria X, que hoje me contratam direto. E até o ano que vem quero migrar para o Comfort. Mas só porque agora tenho conhecimento, experiência e clientes fidelizados.
Inclusive, hoje à noite tenho três corridas particulares com passageiros que conquistei na Uber X. E nessas corridas particulares, posso cobrar R$ 2,50 a R$ 5,00 por km, muito acima do app.
Então, para quem está começando: cuide do seu carro, do seu atendimento, da sua imagem. E mesmo aquela corrida de R$ 5,80 que muitos menosprezam pode se transformar numa oportunidade grande.
Perfeito. E Guilherme, agora falando um pouco sobre a venda de perfumes, né? Você comentou sobre seu faturamento só com a Uber. Eu gostaria que você me desse uma estimativa do quanto consegue fazer a mais por mês com a venda desses produtos dentro do carro. Eu, por exemplo, sempre que tem um chiclete no Uber, eu compro — claro, se o passageiro for desse tipo. Mas se você pudesse dar essa ideia…
Guilherme: Claro. Os produtos com os quais eu trabalho variam bastante. Tem produtos de alto custo, como perfumes, cremes hidratantes, gel massageador… São itens nos quais eu invisto mais, mas também tenho uma lucratividade maior. Porém, a saída desses produtos é menor. Então, eu avalio o passageiro: se percebo que ele pode ter interesse, ofereço.
Agora, produtos como chicletes, Mentos, Bala Fine são baratos, comprados em atacado. Aqui na minha região, saem por R$ 1,20 a R$ 1,50 a unidade, e eu revendo por R$ 2,50 a R$ 3 — ou seja, lucro de 100%.
São itens de saída muito maior. Às vezes entra uma criança no carro, vê a bala e já pede. Então, uma corrida de R$ 5 ou R$ 7 vira R$ 8 ou R$ 9 com uma simples venda.
Mesmo produtos baratos, pela quantidade vendida, podem ter um lucro próximo ou igual ao de um perfume. Se eu vender 20, 30, 50 balas, já atingi o lucro de um perfume vendido.
Por outro lado, se vendo um perfume por R$ 50 e junto ofereço outros itens como cremes, a venda sobe para R$ 120, R$ 130 numa única corrida de R$ 10, por exemplo. Então é relativo, depende muito do perfil do cliente.
Às vezes, o lucro das vendas supera o faturamento com os apps. Tem passageiro que compra 2, 3 perfumes e ainda pergunta se tem promoção para levar mais. Então, com uma venda dessas, ultrapasso fácil o valor da corrida.
Esse é um dos diferenciais da lojinha. Nós, motoristas que temos loja móvel, nos reunimos em grupos, trocamos ideias, estratégias de abordagem, como converter vendas… Às vezes alguém diz: “Como você conseguiu vender 3 perfumes?” E a gente compartilha as técnicas.
No final da semana ou do mês, o lucro com as vendas pode empatar ou até ultrapassar o dos aplicativos.
Caramba, entendi. E você recomenda que todo motorista instale uma lojinha no carro?
Guilherme: Sim, eu recomendo. É uma fonte de renda extra que ajuda a compensar as falhas da plataforma, como os valores baixos oferecidos. Mas é importante saber quais produtos vender.
Não adianta instalar uma lojinha e querer começar vendendo perfumes importados caríssimos sem conhecer o produto. Você precisa saber o que está vendendo.
Tem gente que trabalha com perfumes de R$ 500 ou mais, mas tem conhecimento de causa. Sabe explicar: “Esse perfume é amadeirado, se adapta ao pH da sua pele, dura 12 a 15 horas…”
Às vezes, até sugiro uma venda casada: “Você hidrata sua pele?” Se a pessoa disser que não, ofereço um creme. Com pele hidratada, até um perfume pirata dura mais que um de grife na pele desidratada. Isso é conhecimento aplicado à venda.
Comecei vendendo só doces: Mentos, Bala Fine, Halls, Azedinho… Só coisa simples. Hoje ampliei a variedade. Aprendi com outros motoristas, estudei estratégias de vendas, leio livros sobre o tema, melhorei minha comunicação.
Tudo isso ajuda não só nas vendas, mas também a conquistar clientes particulares. A lojinha abre várias oportunidades — não apenas vender, mas criar um relacionamento com o passageiro, fidelizar.