Eu saio de casa para fazer uns R$500 em 12 horas de rua. A média mensal que eu tento buscar é R$12 mil bruto

Motorista de app relata: “Eu me considero seletivo. Horário de pico, R$ 2,00 por km. Fora do pico, R$ 1,50 ou mais.”

ponto de exclamacao .png
Entrevista
Conversas com especialistas, gestores e profissionais do setor, com perguntas conduzidas pela equipe do 55content.
Perfil do motorista Vitor no aplicativo da Uber, com 7.975 viagens realizadas em 2 anos, acompanhado de elogios recebidos e opção de adicionar informações ao perfil.
Foto: Leonardo Vitor Alves Teixeira para 55content

Com apenas 23 anos, Leonardo Vitor Alves Teixeira já carrega quase três anos de experiência como motorista de aplicativo — trajetória iniciada ainda no interior de Minas Gerais e hoje consolidada nas ruas movimentadas de Belo Horizonte. Ex-prestador de serviços dos Correios, Léo viu nos apps uma alternativa mais lucrativa e viável, transformando uma decisão prática em uma profissão de tempo integral.

Nesta entrevista, ele compartilha com riqueza de detalhes como é sua rotina intensa de 10 a 12 horas diárias, suas metas de faturamento, os critérios que usa para escolher corridas e os desafios que enfrenta, como o alto custo de combustível e as inconsistências das plataformas. Além disso, Léo oferece conselhos para quem está começando e reflete sobre as mudanças no setor nos últimos anos.

Léo, então a minha primeira pergunta é saber como você se tornou motorista de aplicativo e há quanto tempo você realiza esse tipo de atividade?

Leonardo: Olha, eu me tornei motorista porque foi uma opção mais viável para mim, porque eu trabalhava como prestador de serviços aos Correios. Tinha um parente meu que era motorista de aplicativo, consegui comprar um carro e daí foi indo, né? Aí eu vi que era mais viável do que eu trabalhar na função que eu tinha antigamente, ganhava menos, né? Já tem três anos, dois anos e oito meses, mais ou menos. Dois e oito.

E você era carteiro ou não?

Leonardo: Na verdade, eu era um prestador de serviços para os Correios mesmo, mas ainda era terceiro.

Ah, entendi.

Leonardo: Apesar de eu fazer a função de carteiro, eu não era concursado nem nada, né? Era mais terceiro.

Entendi. E, Léo, a minha próxima pergunta, eu gostaria de saber um pouco sobre como é a sua rotina de trabalho. Então, de que horas a que horas você trabalha? Se você folga algum dia da semana, se você é guiado por alguma meta? Tipo, hoje só volta para casa se faturar 300, 350, 400. Como é isso para você?

Leonardo: Então, hoje vou falar da média no geral, porque eu comecei no interior e hoje eu rodo na capital, né?

De São Paulo?

Leonardo: Não, Minas Gerais. No interior, comecei rodando aqui em Montes Claros, que é uma cidade com uns 400 mil habitantes. E de um ano para cá, eu rodo em Belo Horizonte.

Leonardo: Lá em BH, eu atuo… Esse mês, dois meses para cá, eu troquei meu horário, mas em média, eu trabalho 12 horas por dia, começando de meio-dia e indo até meia-noite. Agora, de dois meses para cá, eu começo às 5h30 e vou até às 6h00, 7h00, por aí.

E você se considera um motorista seletivo nas corridas que você aceita? Você só aceita a corrida que pague R$ 1,50 por km, R$ 1,60 por km? Como é isso para você?

Leonardo: Considero-me seletivo. Isso depende do horário, depende da demanda. Então, horário de pico, eu vou tentar trabalhar ali em cima dos R$ 2,00 por quilômetro. Fora de horário, R$ 1,50 ou mais. Aí eu vou optar pelo meu ganho por tempo, não necessariamente quilômetro. Principalmente quando a demanda está mais fraca.

E, Léo, trabalhando da maneira que você trabalha, você tem uma média de faturamento por dia, por semana, por mês?

Leonardo: Então, tem tudo, né? Geralmente, eu saio de casa para fazer uns R$ 500 — 12 horas de rua, né? A média mensal que eu tento buscar é R$ 12.000, bruto.

E de lucro, quanto que realmente é o seu lucro?

Leonardo: Olha, de lucro, eu tenho um gasto mensal com combustível de uns R$ 4.000. Só contando o combustível, o lucro seria uns R$ 8.000. Aí tem alimentação também, que eu gasto por volta de R$ 1.500 mensal, porque eu me alimento na rua.

Ter carro é caro, né?

Leonardo: É muito caro. Eu troquei de carro recentemente, peguei um carro melhor, então…

Entrando nesse assunto, você roda pelo X, pelo Comfort?

Leonardo: X e Comfort.

E minha próxima pergunta é: quanto você gasta com combustível por dia, você tem essa média aí?

Leonardo: R$ 150 por dia. No mês normal. Tem mês que eu gasto mais, se eu quiser uma meta mais alta, tem mês que eu gasto menos. Mas no geral, é R$ 150 para fazer R$ 500 por dia.

E minha próxima pergunta é saber, mais ou menos, quanto você roda por dia. Você tem essa ideia?

Leonardo: De 250 a 300 km por dia. De segunda a sexta. No sábado eu chego a rodar 400 km, porque no sábado a meta aumenta.

E minha próxima pergunta é saber: para você, qual o melhor tipo de corrida e qual o pior tipo de corrida, na sua opinião?

Leonardo: Melhor? Olha, o melhor para mim seria… Você fala de valor? Como assim?

Corrida longa, corrida curta…

Leonardo: Ah, tá. Olha, para mim, eu tento focar mais em corrida média e longa. Eu não gosto tanto de corrida curta, devido a BH ter um trânsito muito intenso, bem complicado. Só que, em contraponto, tem que ser aquela corrida longa que esteja pagando bem o meu tempo. Porque a minha intenção, no dia a dia, é conseguir fazer a minha hora valer a pena — que é tipo R$ 50,00. Uma média de R$ 40,00 a R$ 50,00 por hora. Tenho que trabalhar nessa média. Então, por isso, em média, eu trabalho 12 horas, mas tem dia que eu trabalho 10 horas, 11… Só que aí depende muito de como a minha hora vai estar. Então, independente dela ser média ou longa, ela tem que estar pagando bem por tempo. Eu não gosto tanto de corrida curta. Corrida curta, para mim, é mais tediante.

E minha próxima pergunta: eu gostaria de saber se você só roda com a Uber ou com a 99, com a inDrive…

Leonardo: Uber e 99.

E a minha próxima pergunta: na sua opinião, qual é a maior dificuldade do motorista de aplicativo hoje em dia?

Leonardo: A maior dificuldade… Ah, cara, eu acho que… A maior dificuldade é… É difícil falar assim, mas eu acho que… Eu nem falo tanto das plataformas, porque se você souber trabalhar, ainda consegue tirar proveito disso. Mas o que eu vejo, no geral, é o combustível — todo dia tem aumento — e a manutenção de carro, que não tá fácil. Então, eu acho que a maior dificuldade para o motorista de aplicativo hoje são os gastos. Cara, eu tenho ali carro e tal.

Entendi. E você é motorista de aplicativo há quanto tempo? Você comentou e eu esqueci.

Leonardo: Dois anos e oito meses.

E você sente o quê desses dois anos e oito meses de quando você começou pra cá? Você acha que melhorou, que piorou a atividade, que paga mais, que paga menos? Muitos motoristas falam que ganham quase a mesma coisa, mas trabalham mais e ainda os custos aumentaram, né? Então eu queria saber a sua opinião.

Leonardo: Não, os custos aumentaram, de fato. Por exemplo, pegando aqui, quando eu cheguei em BH — fez um ano que eu estou em Belo Horizonte, foi em março do ano passado, então um ano e um mês agora — parece que em junho, mais ou menos, deu uma queda. Caiu realmente, porque antes a gente fazia esse valor.

Eu lembro que quando eu cheguei em Belo Horizonte, eu fui só no X. Tinha um cara que pegava só a categoria X. E eu fazia o valor que eu faço hoje no X e no Comfort, com praticamente o mesmo tempo de serviço. Então, assim, deu uma caída, de uma certa forma. Não sei qual a porcentagem, mas é como se você tivesse que ficar uma hora a mais, uma hora e meia a mais. Realmente, isso é fato.

Muitos motoristas reclamam de coisas das plataformas como dinâmicas fakes. Falam que a taxa de cancelamento do passageiro é muito baixa. Queria saber qual a sua visão sobre isso.

Leonardo: Sim, a dinâmica hoje não paga proporcional. Por exemplo, ela está ali, sei lá, “mais vinte”. Ela não paga aquele “mais vinte” proporcional. Então, assim, você vai, às vezes, chegar ali no “mais vinte”, que teoricamente pagaria vinte reais a mais que o valor original da corrida, e vai estar tocando corrida a dois reais o quilômetro. Que, em tese, deveria estar tocando, sei lá, cinco, seis reais.

Então, hoje, se você não escolher, se estiver na beira do dinâmico e não escolher bem, até você conseguir sair com uma boa corrida, ela não vai pagar. Ela não paga. Então, realmente, houve uma queda nesse sentido. Muitas das vezes, o dinâmico está ali, tipo “mais vinte”, “mais trinta”, mas não necessariamente está pagando isso.

É mais, acho, um chamativo para o motorista, quando a plataforma está precisando. Ela está precisando de motorista na hora, e o cara acaba indo atrás. Só que não é isso.

Sobre a taxa de cancelamento, não é uma taxa tão justa, né? Porque, por exemplo, como eu te falei, minha intenção é bater minha meta no menor tempo possível. Então, muitas vezes, você chega no passageiro, se desloca dois quilômetros, um quilômetro e meio — em média — e ainda tem que esperar três, quatro minutos. A 99, se não me engano, são três minutos. A Uber também.

Você tem que esperar três minutos. Aí você ganha, muitas vezes, três reais e tal. Hoje, a 99 está com um problema: se o passageiro manda mensagem para o motorista falando que está chegando ou descendo, a 99 não te paga a taxa. Ou seja, você anda à toa e ainda não recebe a taxa de cancelamento.

E aí você tem que chamar no suporte, toda uma burocracia, porque o suporte deles é ao vivo, tem fila virtual, e dá trabalho. Aí você até cansa e desanima, e acaba não mandando. Então, quando você quer valorizar seu ganho por hora, querendo ou não, essas coisas te afetam.

Minha próxima pergunta é saber se você tem alguma noção da sua taxa da Uber, de quanto a Uber tira de você.

Leonardo: De quanto a Uber tira em cima de mim? Vamos bora olhar aqui. Quando eu olhei, era mais ou menos em média de 15%, de 15% a 20%. Isso vai variar de mês pra mês. Esse dado eu não tenho. A gente consegue olhar aqui, se você quiser ir adiantando algumas outras coisas.

Tá bom, claro. Pra finalizar, eu tenho mais duas últimas perguntas, que dá pra juntar em uma. Queria saber se você ainda acha que vale a pena ser motorista de aplicativo pra quem tá precisando de uma renda a mais? E quais dicas você daria pra quem tá começando?

Leonardo: Olha, eu acho que apesar dos pesares, isso vai depender da opção que a pessoa tem no mercado. Eu, quando virei motorista de aplicativo — eu sou novo — comecei com os meus 19… 19, não. Comecei com meus 20 anos. Hoje eu fiz 23.

Então, assim, eu não era formado nem nada, tinha acabado de sair do ensino médio. Foi uma opção viável pra mim. O que eu ia ter no mercado era de salário mínimo e tal. Não compensaria, no meu ver.

Então, isso vai depender do que a pessoa vai ter além do Uber e tal. Sobre ter bons rendimentos, eu vivi duas realidades: a do interior e a da capital. No interior, hoje, é meio difícil. Dá pro cara sobreviver, mas a pessoa tem que ser muito centrada, saber como funciona a cidade.

Agora, voltando pra capital, eu acho que na capital você consegue ter bons ganhos, sim. Então, assim, eu acho que ainda compensa. Apesar dos custos subirem, você consegue ter uma vida ok.

Eu, por exemplo, igual você perguntou de folga: eu folgo uma vez na semana, em regra. E no final do mês, três dias ali — dois, três dias na semana. Agora mesmo, eu tô aqui na minha cidade, no interior. Uma vez foram duas semanas já passadas. Além dessas folgas que eu tirei na semana, eu já estou aqui há uns três dias.

Trabalhei pra caramba nos primeiros 15 dias e cheguei agora no final do mês com as contas pagas e tal, tudo certo. Então, vai depender do esforço da pessoa. Se a pessoa trabalhar e conhecer a área, ainda compensa, sim.

Acho que a dica que eu dou é: escutar quem já está no ramo, procurar — porque foi isso que me ajudou — essa questão de influenciador, essas coisas aí. Escutar, tentar aprender como funciona a cidade e trabalhar. Só que, assim, são jornadas de, no mínimo, 10 horas. Se você não conseguir trabalhar 10 horas por dia, infelizmente, você não consegue nada, não. Aí vai do que a pessoa tem de opção no mercado, né? Pra mim, essa é a realidade. Pra mim, serve, né? Então, é o que eu penso.

Foto de Giulia Lang
Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

Pesquisar