“Faturo R$ 10 mil por mês e lucro R$ 8.200”, diz Marcelo, o Ubermestre

“Minha meta diária é R$ 500 por dia, faturo R$ 2.500 por semana, R$ 10 mil por mês e gasto R$ 1.800 em gasolina”, diz motorista de app e influenciador.  

Captura de tela de ganhos de um motorista de aplicativo exibindo um total de R$ 2.656,02 na semana, com 57 horas e 37 minutos online e 173 viagens realizadas. Ao lado, um homem sorridente, de camisa branca, sentado ao volante de um carro.
Foto: Marcelo Tavares para 55content

Marcelo Tavares, conhecido nas redes como @ubermestre.oficial, começou a dirigir por aplicativos em 2016, após ficar desempregado. Ele encontrou na profissão não apenas uma fonte de renda, mas também uma maneira de ajudar outros motoristas por meio da criação de conteúdo. 

Com experiência em gestão, percebeu a importância de compartilhar conhecimento e orientar quem entra no ramo sem preparo. Em entrevista exclusiva, ele conta como concilia a rotina de motorista com a produção de vídeos, a importância de metas para manter a lucratividade e como as mudanças no setor afetaram o dia a dia dos motoristas. Além disso, explica por que considera que, apesar dos desafios, ainda vale a pena ser motorista de aplicativo – desde que se trabalhe com estratégia.

Minha primeira pergunta, Marcelo, é sobre como você começou a trabalhar com os apps de transporte e como decidiu produzir conteúdo para a internet sobre o assunto.

Marcelo: A primeira é a seguinte: eu comecei em 2016, quando fiquei desempregado. Ninguém nasce com o sonho de ser motorista de aplicativo. As pessoas entram porque precisaram sair de sua área de atuação anterior, normalmente é assim que começa.

Não é uma profissão tradicional, é algo novo. Você não ouve alguém dizer que sonha em ser Uber. Geralmente, a pessoa entra porque precisa, é uma questão de falta de opção.

Agora, sobre a influência, eu sempre tive experiência com gerenciamento nos locais onde trabalhei. Naturalmente, as pessoas foram se aproximando, grupos de WhatsApp foram surgindo, e eu senti a necessidade de compartilhar minha experiência com essa galera, tentar ajudar.

Essa ideia continua até hoje: minhas redes servem para buscar informação e ajudar outros motoristas.

Entendi. Marcelo, como você organiza sua rotina para conciliar o trabalho como motorista e como influenciador? Seu trabalho é guiado por metas? Você só volta para casa quando fatura um valor específico por dia, como R$400, R$300, R$500? Como funciona isso?

Marcelo: Exatamente. Tanto que, por exemplo, teve um dia que marcamos algo, e eu não vi sua mensagem na hora porque estava focado em bater minha meta. Para ter sucesso como motorista de aplicativo, é preciso ter um objetivo claro. Ninguém vai te cobrar, mandar e-mails ou ficar no seu ouvido como um chefe faria.

Então, você precisa sair de casa sabendo exatamente quanto precisa faturar para cobrir seus custos. Temos custos fixos e precisamos garantir que uma parte da meta cubra isso e a outra parte seja lucro.

Quem trabalha assim, com metas bem definidas, tem sucesso. Quem não dedica horas suficientes e não se organiza, acaba não tendo uma boa lucratividade e, consequentemente, a profissão acaba não dando certo.

Entendi. Agora, falando sobre sua forma de trabalho, você aceita apenas corridas que paguem um valor específico por quilômetro? Como você define sua meta? Você é um motorista que seleciona muitas corridas?

Marcelo: Antes de responder, deixa eu completar a questão da rotina entre rodar e criar conteúdo.

Eu me programo para produzir conteúdo na parte da manhã ou sempre que surgir algo relevante na rua. Eu tenho câmeras no carro, algo que eu gostaria que todos os motoristas tivessem, pois é uma questão de segurança. Muitas vezes, o conteúdo já está na rua, então basta capturar e postar.

Se acontece algo importante, como uma novidade no aplicativo ou um fato relevante no trânsito, eu paro por um minutinho, posto e sigo minha meta. No Instagram, por exemplo, isso é bem rápido. Mas não há uma regra fixa, porque o conteúdo pode surgir a qualquer momento.

Agora, sobre valores por quilômetro, isso é bem relativo. Atualmente, eu moro no Guarujá, onde houve uma campanha em 2024 defendendo um valor de R$2 por quilômetro e um mínimo de R$10 por viagem.

R$2 por KM, em alguns casos, é possível selecionar. Já o mínimo de R$10 por viagem nem sempre dá para garantir.

Existe uma discussão entre motoristas sobre isso. Por exemplo, uma viagem de R$7 em que eu rodei apenas 2 KM me rendeu R$3,50 por KM, que é excelente. Por outro lado, uma viagem de R$10 pode me fazer rodar 5 KM, o que significa um ganho de apenas R$2 por KM.

Então, nem sempre o mínimo de R$10 é a melhor escolha. Em cidades menores, é difícil manter a meta de R$2 por KM em todas as corridas. Às vezes, uma viagem de R$1,80 por KM ainda vale a pena, dependendo da distância e do contexto. Se eu fosse extremamente rigoroso, poderia acabar sem corridas para fazer.

Entendi. Marcelo, você comentou que começou a trabalhar como motorista há alguns anos. Como você enxerga as mudanças na profissão desde aquela época até hoje? Então, você sente que hoje trabalha mais para atingir sua meta? Você antes faturava mais?

Marcelo: Eu comecei em fevereiro de 2016. Então, já são nove anos. Se estou há tanto tempo nisso, é sinal de que vale a pena, caso contrário, já teria buscado outra coisa. A rede social me ajuda com algumas parcerias, mas nada garantido. O que eu sei com certeza é que se eu sair para rodar 10 horas, atinjo minha meta. O normal é rodar 10 horas por dia, mas, dependendo do objetivo, chego a rodar 12.

Ontem, por exemplo, precisei bater uma quantidade de corridas porque existem incentivos. Em São Paulo, na capital, está fraco, mas aqui no litoral, por conta do verão e do carnaval, esses incentivos ainda aparecem. Algumas pessoas criticam: “Ah, você faz tudo por causa de um incentivo?” Mas vou dar um exemplo: faça 80 corridas e ganhe R$180 a mais. No início, esse valor pode parecer pouco, mas quando você está com 79 corridas, ele se torna excelente. Com uma viagem de R$5 a mais, você ganha os R$180 extras.

Então, é uma questão de administrar bem as oportunidades. Eu sempre busco bater minha meta diárial, que fica entre R$400 e R$500 por dia. Esse é o ideal para sobreviver atualmente. No passado, a realidade era outra. Nem olho muito para trás, porque a gasolina era mais barata e as tarifas eram praticamente as mesmas de hoje. Mas a gasolina subiu absurdamente e a tarifa quase não mudou. Por isso, hoje os motoristas precisam ser mais seletivos. Antigamente, qualquer corrida ajudava a bater a meta, mas agora é preciso escolher melhor.

Entendi. Na sua opinião, ainda vale a pena ser motorista de aplicativo?

Marcelo: Vale a pena saber trabalhar. Inclusive, na minha bio do Instagram, eu tenho um e-book que fiz para ajudar quem está começando. Ele contém um método com 50 videoaulas, onde explico tudo que aprendi na prática.

Vale a pena porque, hoje, muitas melhorias aconteceram devido às lutas dos motoristas. Quem entra agora talvez nem saiba disso. Antigamente, quando um passageiro chamava o carro, o motorista aceitava sem saber para onde ia. Somente quando o passageiro entrava no carro e iniciava a viagem, sabíamos o destino. Isso gerava muitos riscos, inclusive crimes e assassinatos.

Graças às reivindicações, hoje conseguimos ver o destino, o valor antes de aceitar a corrida e selecionar melhor as viagens. Mas isso só foi possível porque muita gente brigou por essas mudanças.

Entendi. Trabalhando dessa forma, você consegue faturar quanto e lucrar quanto?

Marcelo: Minha meta é entre R$400 e R$500 por dia. Nesta semana, por exemplo, trabalhei todos os dias. No dia em que tirei um descansinho, rodei por apenas três horas.

Para ter uma ideia, é só imaginar que um motorista precisa fazer pelo menos R$2.500 por semana. No mês, isso dá cerca de R$10.000. Desses ganhos, é preciso descontar os custos: eu gasto, em média, R$70 por dia com combustível, o que dá cerca de R$1.800 por mês. Além disso, há motoristas que precisam pagar a parcela do carro ou aluguel, o que também impacta no lucro.

Entendi.

Se você sair para trabalhar sabendo exatamente os custos fixos que precisa cobrir, fica mais fácil definir a meta diária. Esses custos incluem carro, internet, combustível e alimentação, porque, mesmo em casa, você precisa comer, né?

Muitos motoristas pedem provas de faturamento. Você costuma compartilhar esses números?

Marcelo: Sim, eu sei que tem gente que fala muito, mas não mostra nada. Por isso, no meu e-book, ensino detalhadamente como eu trabalho. Não é só falar que faz, é mostrar como faz. Explico desde estratégias de segurança até métodos de seleção de corridas.

Existem aplicativos que bloqueiam corridas abaixo de R$2 por KM, mas nem sempre isso é vantajoso. Por exemplo, uma corrida de R$1,90 por KM pode ser melhor dependendo do trajeto, especialmente se for uma rodovia onde o carro gasta menos. Há quem seja radical e não aceite nada abaixo de R$2 por KM, mas isso pode significar perder boas oportunidades.

Você já trabalhou em outra cidade, ou sempre foi no Guarujá?

Marcelo: Não, meus primeiros oito anos foram na capital de São Paulo. Mas já rodei em outras cidades, como Limeira, Ubatuba, Sorocaba, Jundiaí, Campinas, Santos e, agora, estou aqui no Guarujá. Quem tem um aplicativo de São Paulo pode rodar em qualquer cidade da região metropolitana.

Você considera bom o movimento no Guarujá ao longo do ano? A capital é realmente melhor?

Marcelo: Estou aqui há dez meses. Quando vim para o Guarujá, achava que trabalharia mais em Santos, porque imaginava que o Guarujá fosse uma cidade dormitória, com pouco movimento. Mas me surpreendi, porque é uma cidade populosa, com muitas pessoas que precisam se locomover para o trabalho, escola e consultas médicas.

A demanda de passageiros é menor do que em São Paulo, mas também tem menos motoristas, então acaba equilibrando. No fim do ano e no carnaval, o movimento aumenta bastante. O que muda é que, apesar de ganhar um pouco menos aqui, não há o trânsito e o desgaste de São Paulo. O consumo de combustível também é menor. No fim, tudo se equilibra, porque ninguém dá almoço de graça.

Muitos motoristas de capitais como São Paulo e Belo Horizonte reclamam que o movimento é fraco em janeiro, pois as pessoas viajam para a praia. Você percebe essa diferença?

Marcelo: Sim, muitos motoristas vêm para cá nessa época. Mas conheço motoristas que continuam faturando bem em São Paulo, mesmo em janeiro e fevereiro. Tenho amigos que conseguem fazer R$3.000 por semana nesse período. Como se explica isso?

Eu acho que algumas pessoas perdem muito tempo reclamando. Por isso, não sou o tipo de pessoa que fica reclamando nas redes sociais. É importante protestar quando necessário, mas nos locais certos, como a Assembleia Legislativa, a Câmara Municipal ou manifestações organizadas.

Se você passa o tempo todo reclamando, acaba sem tempo para trabalhar. Prefiro buscar soluções e ajudar as pessoas a faturar mais. Tenho amigos que bateram metas mesmo em janeiro, então não é uma regra que todos tiveram dificuldades. Sei que o movimento cai, mas sobrevivi a oito janeiros em São Paulo e sempre consegui trabalhar.

Entendi. Agora, quero saber quais são os maiores desafios de ser motorista e criador de conteúdo. É a criatividade para gravar novos vídeos? As críticas? O tempo para conciliar os dois trabalhos? Como é isso?

Marcelo: O primeiro desafio é a responsabilidade com o que você fala. Eu posso não ter milhões de seguidores, mas são 30 mil no Instagram e 30 mil no YouTube. Isso me dá uma responsabilidade grande sobre aquilo que compartilho.

Nunca procurei polemizar ou atacar a concorrência. Na minha opinião, alguns criadores de conteúdo falam coisas sem responsabilidade e depois sofrem as consequências. Eu nem gosto muito do termo “influenciador”, porque a influência pode ser positiva ou negativa. Prefiro me chamar de criador de conteúdo.

Uma vez, estava na praia num dia de folga e encontrei um seguidor. Ele me reconheceu e veio falar comigo. Imagine se eu fosse um cara que falasse bobagem? Poderia ter problemas.

Minhas redes são focadas em ajudar, não em criar polêmicas. Atacar pessoas ou empresas pode trazer problemas, então prefiro evitar.

Sobre a questão do tempo, é complicado. Não sou uma pessoa que se dedica 100% ao YouTube. Tenho amigos que fazem três vídeos por dia. Eles focaram nisso e, por isso, alcançaram 100 mil inscritos e uma monetização alta. Mas eu vejo a rede social como algo secundário, não como minha principal fonte de renda. Meu foco é o meu trabalho como motorista.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.