No universo da mobilidade urbana, grandes plataformas como Uber e 99 dominam o mercado, mas, em algumas regiões, aplicativos regionais vêm conquistando espaço e desafiando os gigantes. É o caso do Tchê Levo, uma iniciativa que nasceu em 2019, na cidade de São Borja (RS), e hoje já opera em diversas cidades do Rio Grande do Sul.
Por trás do sucesso do Tchê Levo estão motoristas que decidiram transformar desafios em oportunidades. Jairo Pinheiro, Rogério Vieira e Emerson Barreto, três dos seis fundadores do aplicativo, contam nesta entrevista como a insatisfação com um antigo app os levou a criar sua própria plataforma, focada no suporte aos motoristas e na experiência do usuário.
A conversa aborda desde o início da operação até a expansão do serviço, os desafios da concorrência com grandes empresas, o modelo de cobrança ideal e a importância do atendimento diferenciado. Além disso, os fundadores compartilham suas estratégias de marketing, suas expectativas para o futuro e o que faz do Tchê Levo um destaque no setor de mobilidade urbana.
Confira a entrevista completa e entenda como a união desses motoristas transformou o mercado local de transporte por aplicativo.
Então, gente, vamos lá. Nosso papo aqui é bem aberto, mas para a gente conhecer melhor sobre vocês, sobre o trabalho de vocês, enfim, eu queria que vocês começassem contando um pouco da história. De onde surgiu a ideia? Normalmente, os gestores enxergam alguma dor no mercado, trabalharam anteriormente como motoristas, e, através de vocês, como foi essa união para se juntarem e criarem o aplicativo?
Jairo: Nós éramos de um outro aplicativo, que não vem ao caso mencionar aqui. Era o primeiro aplicativo de São Borja, e nós fomos os primeiros motoristas de aplicativo na cidade. Só que o nosso anseio era que esse aplicativo não nos atendia bem. O atendimento era muito ruim, sabe? Nos deixavam na mão, o aplicativo bugava toda hora e, sempre que isso acontecia, eles nunca assumiam a culpa. Alegavam que o problema estava nos nossos celulares, nunca na tecnologia deles.
Então, essa falta de suporte e as taxas muito altas nos fizeram repensar se aquilo estava correto. Como éramos pioneiros na cidade, decidimos procurar uma alternativa. E foi exatamente isso que fizemos para não pagar taxas tão altas. Foi assim que surgiu o Tchê Levo em São Borja, no ano de 2019.
Rogério: Nós não estávamos contentes com alguns fatores e, além disso, começaram a nos culpar pelos erros da tecnologia. Como éramos todos amigos, conversamos, buscamos uma alternativa e montamos o Che Levo. Inclusive, o nome surgiu de uma brincadeira. Meu apelido é Love Car, e no início pensamos em brincar com isso.
Ficamos pensando: “Tchê, o quê?”, mas aí alguém falou “Tchê Levo!” e o nome pegou.
Mas, gente, vocês eram motoristas antes? Como foi o início de vocês no mercado de mobilidade urbana?
Emerson: Sim, nós éramos motoristas de um aplicativo concorrente. Todos nós trabalhávamos nele, e a ideia inicial surgiu justamente para fugir das taxas altas, que, na época, eram muito pesadas, chegando perto das taxas da Uber hoje. Então, no começo, o objetivo era esse. Mas o negócio foi crescendo, foi fluindo e, hoje, atingimos números expressivos nesses cinco anos e alguns meses.
Bacana, pessoal! Hoje vocês atuam em quantas cidades?
Jairo: Estamos em Alegrete, Paraí, Uruguaiana, na nossa matriz, que é São Borja. Também temos operação em Tapejara, Cruz Alta, Guaporé, Sananduva, Viamão, Gravataí e outras que estão surgindo.Todas no Rio Grande do Sul, certo?
Ah, bom! E hoje vocês contam com uma média de quantas corridas mensais, juntando todas as centrais?
Jairo: Em média, 150 mil corridas por mês. No mês de dezembro, atingimos essa marca.
Beleza! Agora falando um pouco sobre como vocês operam em cada cidade. Como há um grande número de cidades em que atuam, acredito que os valores possam variar de uma para outra. Como funciona a corrida mínima, a taxa e o trabalho com os motoristas em cada localidade?
Emerson: Vamos falar sobre a matriz. Lá, cobramos uma taxa de 15% sobre as corridas finalizadas. Esse é o modelo de cobrança. Em algumas cidades, o sistema é diferente. Algumas possuem uma taxa fixa somada à porcentagem sobre a corrida finalizada. Outras poucas trabalham por mensalidade, mas esse não é o nosso foco. Nosso modelo principal é baseado na porcentagem. Sobre o valor da corrida mínima, na matriz, é R$ 7,99. Em algumas cidades, chega a R$ 8,99.
Em alguma dessas cidades, vocês cobram um valor fixo de mensalidade, ou trabalham apenas com a taxa percentual?
Emerson: Sim, há algumas cidades em que aplicamos a mensalidade.
Jairo: Por exemplo, em Laguna, onde a mensalidade é de R$ 350. Nosso trabalho começou no início de 2024 cobrando pela porcentagem, mas o mercado nos levou a adotar a mensalidade nessa cidade específica. Hoje, temos um número considerável de corridas diárias e motoristas por lá.
Quero perguntar um pouco sobre essa questão da mensalidade versus porcentagem da corrida. Sendo bem direto, o que vocês acham melhor? Ou vocês acham que varia muito? O que levou vocês a cobrarem mensalidade em Laguna?
Jairo: Foi uma questão de mercado. A maioria dos aplicativos em Laguna trabalha com mensalidade. Tivemos muita dificuldade para atrair motoristas nesse sistema tradicional de porcentagem. Então, tivemos que adaptar o modelo e a coisa começou a funcionar melhor com a mensalidade. Mas, se perguntar para nós três que estamos aqui representando o Tchê Levo, preferimos a porcentagem.
O faturamento da empresa fica melhor, o controle é mais eficiente e conseguimos fidelizar melhor os clientes no sistema de porcentagem. O Rogério pode complementar isso melhor, já que ele é um defensor desse modelo.
Rogério: Exatamente! Defendo a porcentagem porque nos dá mais controle, não sobre os motoristas, mas sobre todo o sistema. Assim, conseguimos verificar se um motorista não está atendendo e podemos intervir para melhorar a experiência. Há vários fatores que fazem esse modelo ser melhor.
A mensalidade acaba deixando o motorista muito à vontade, permitindo práticas que fogem do padrão do Tchê Levo. A mensalidade limita o faturamento. Enquanto, na porcentagem, conseguimos escalar o negócio.
Emerson: Outro ponto importante é que, nos aplicativos que cobram mensalidade, os motoristas tendem a se multiplicar além do necessário. Assim, a fatia do bolo fica muito pequena para cada um. Por exemplo, há cidades com média de 300 corridas por dia, mas que têm 100 motoristas cadastrados. Ou seja, cada um faz cerca de 13 corridas por dia, o que complica a vida deles.
À primeira vista, parece que pagar uma mensalidade sai mais barato, mas, na prática, não é bem assim. No mês de dezembro, tivemos um motorista que faturou R$ 21 mil, fazendo 1.141 corridas. Se ele estivesse em um sistema de mensalidade, dificilmente teria conseguido esse faturamento, pois haveria muito mais motoristas e menos corridas para cada um.
Rogério: Pegando o gancho do Emerson, realmente, cidades que trabalham com mensalidade possuem um número excessivo de motoristas. Enquanto no nosso modelo, em certas cidades, há 30 ou 40 motoristas cadastrados, em aplicativos que cobram mensalidade, esse número sobe para 300 ou 400 motoristas. Com isso, a fatia do bolo fica muito pequena para cada um.
Beleza, gente, ainda nessa pegada que vocês falaram de fidelização, como é que vocês trabalham aí para divulgação de vocês nessas cidades quando vocês vão chegando? O que vocês fazem para atrair motoristas, para atrair passageiros? Quais que são assim, os maiores insights que vocês tiveram para atrair o público para vocês?
Jairo: O meu ponto é o velho e bom panfleto, do qual o Rogério é defensor. Esse aí é o que mais funciona. Você vai de porta em porta, vai nas lojas, vai distribuindo esse material. E aí depois você coloca o marketing agressivo nas redes sociais. Também usa essa ferramenta que vem e não tem volta. Isso aí a gente vai fazer bastante essa mídia. Mas o que a gente bate bastante no panfleto? Vai, bota alguém para panfletar numa praça, num mercado e esse é o método principal. O começo de tudo é panfletagem. É o mais antigo, mas é um dos que dá mais certo.
Principalmente porque a gente foca tudo em cidades pequenas. Cidade grande, talvez não… Médias, né? A cidade com mais habitantes em que nós estamos consolidados é Uruguaiana, com 120 mil habitantes. Então ainda funciona esse método. Estamos chegando em Gravataí e Viamão. São cidades acima de 200 mil habitantes. Aí talvez você tenha que trabalhar de outra forma e bater bastante na rede social. Mas o panfleto nas pequenas funciona bem. Legal.
Emerson: O pessoal está usando agora também influenciadores nas pequenas e nas grandes cidades. Tem dado resultado em algumas cidades onde investimos nisso. Trabalhamos com influência local e regional, e em alguns lugares deu muito certo.
Vocês usam IA? Vocês estão tendo uma resposta boa? Como que está aí? Pelo WhatsApp de vocês?
Emerson: São casos e casos. Nós estamos há seis meses com o IAGo Bot e não estamos em todas as cidades. Estamos com quatro cidades utilizando essa ferramenta, e o resultado tem sido bem satisfatório. Em dezembro, algumas cidades até excederam o limite de chamados, pois há um limite antes de começar a cobrança extra. Então está sendo bom.
O que acontece? Nós temos algumas cidades que possuem centrais físicas que atendem das 7h da manhã às 22h. E aí, o IAGo Bot, que chamamos carinhosamente de “Tchêzinho”, funciona 24 horas. Então, ele cobre a madrugada, suprindo a demanda após o fechamento das centrais. Algumas pessoas preferem chamar pelo WhatsApp em vez do aplicativo, então o Tchêzinho é um complemento ao nosso trabalho e tem sido bem satisfatório. Provavelmente, vamos expandi-lo para mais cidades.
Jairo: O pessoal ainda usa muito a chamada via telefone, então estamos trabalhando bastante para fidelizar os clientes no aplicativo. Mas, por enquanto, nas cidades menores, ainda precisamos dessas duas ferramentas: a central física e o IAGo Bot, para complementar o atendimento.
Beleza. Pessoal, hoje vocês estão com quantos motoristas cadastrados?
Jairo: Hoje, temos mais de mil motoristas cadastrados e ativos.
Queria saber de vocês como vocês atuam, o valor da corrida dinâmica, como vocês trabalham?
Emerson: Como falei, atuamos em muitas cidades, e pode haver diferenças entre elas, mas, de forma geral, como costumam atuar com esse sistema? A dinâmica ainda é algo novo para nós. Porque assim, nós trabalhamos em cidades do interior, praticamente todas as cidades em que atuamos.
Nessas localidades, a tarifa dinâmica normalmente não é ativada manualmente. Porém, agora, em 2025, vamos implementar a dinâmica automática. O sistema reconhecerá quando houver uma grande quantidade de chamados no mesmo local e aumentará o valor automaticamente. Se um cliente chamar duas, três, quatro vezes no mesmo local, a tarifa será ajustada. Vamos começar a testar isso agora em 2025, pois, no interior, o funcionamento é bem específico. Diferente das cidades grandes, onde a dinâmica surge naturalmente, no interior isso não acontece com tanta frequência. Mas, mesmo assim, vamos experimentar esse modelo automático para ver como funciona.
Outro problema nas cidades do interior é a questão dos clientes e do valor das corridas. Se o preço começar a subir muito, os clientes tendem a trocar de aplicativo em busca de opções mais acessíveis. Isso torna o mercado das cidades pequenas mais sensível a variações de preço. Por exemplo, se a Dona Maria está acostumada a pagar um determinado valor para ir de casa até o hospital e, de repente, encontra uma tarifa dinâmica mais alta, ela pode optar por não usar o serviço.
Rogério: A tarifa dinâmica ocorre mais frequentemente à noite e nos finais de semana, para atrair mais motoristas nesses horários de baixa oferta. Além disso, há momentos do dia em que o sistema aumenta os valores automaticamente devido à alta demanda, independentemente da tarifa dinâmica.
Jairo: Atualmente, temos utilizado a tarifa dinâmica com frequência em Uruguaiana e Alegrete, onde os usuários já estão mais habituados com esse modelo.
Pessoal, agora pensando um pouco mais no mercado de vocês: na maioria das cidades em que atuam, Uber e 99 são empresas fortes? Como é a concorrência com essas multinacionais?
Jairo: A única cidade onde temos a Uber como concorrente é Uruguaiana, mas eles não são muito fortes por lá. Os usuários tendem a não utilizar o serviço devido aos valores praticados. É mais fácil para nós entrarmos em cidades onde a Uber e a 99 não estão presentes, justamente por conta da concorrência de preços.
Nas cidades onde essas empresas são fortes, geralmente com mais de 200 mil habitantes, nossa inserção no mercado se torna mais difícil. No entanto, no interior, conseguimos uma entrada mais facilitada. O Emerson pode explorar esse cenário com mais detalhes, mas, de maneira geral, a concorrência com essas multinacionais não tem sido um grande obstáculo para nós.
Emerson: Temos plena consciência da dimensão da Uber e da 99 e conhecemos nossos limites dentro desse mercado. No entanto, a Machine tem nos proporcionado novas ferramentas, e os aplicativos regionais concorrentes vêm conquistando uma fatia do mercado dessas multinacionais com sucesso.
Na minha visão, dentro de um ou dois anos, os aplicativos regionais ganharão uma participação ainda maior no mercado, inclusive em cidades maiores. Precisamos nos preparar para entrar em mercados como Passo Fundo, que tem cerca de 400 mil habitantes, e Santa Maria. A Machine está implementando novas ferramentas para que possamos competir de maneira mais eficiente, pois a concorrência com essas grandes empresas não é fácil.
Queria perguntar o que vocês acreditam que o Tchê Levo tem de diferencial em relação aos grandes concorrentes?
Rogério: A qualidade no atendimento é um dos nossos principais diferenciais, tanto para os clientes quanto para os motoristas. Essa é uma prioridade no nosso trabalho.
Jairo: O Emerson, por exemplo, é extremamente exigente nesse aspecto, tanto na qualidade do atendimento quanto na taxa de corridas atendidas, sempre buscando o melhor desempenho possível.Nosso foco é garantir que o cliente seja bem atendido e que o motorista também fique satisfeito. A rapidez no atendimento é um fator essencial.
Emerson: O percentual de corridas atendidas em relação às solicitadas é um indicador importante para nós, e em algumas cidades conseguimos manter essa taxa acima de 90% a 95%. Claro, manter esse padrão em toda a rede é um desafio, mas esse nível de eficiência fideliza os clientes, pois eles sabem que, ao chamar o aplicativo, serão atendidos.
Além disso, tratamos o motorista como um verdadeiro parceiro, e não apenas como um número. Esse é um dos diferenciais do nosso aplicativo. Muitos aplicativos não oferecem esse cuidado extra, mas nós conhecemos bem as necessidades dos motoristas, pois já estivemos nessa posição. Sabemos exatamente quais são os desafios e buscamos sempre aprimorar nossos serviços para atender melhor.
Nosso objetivo é oferecer um tratamento diferenciado, baseado em uma relação de parceria real, onde ambas as partes saiam beneficiadas. Afinal, uma parceria só é válida quando é vantajosa para todos os envolvidos.
Eu sei que alguns aplicativos enfrentam um problema recorrente: o cancelamento das corridas. Como vocês lidam com essa questão no app? Sabemos que essa é uma das principais reclamações dos gestores. Como vocês enxergam esse desafio?
Jairo: O cancelamento de corridas é um problema complexo, mas entendemos os diferentes aspectos envolvidos. Do ponto de vista do cliente, muitas vezes ele chama vários aplicativos ao mesmo tempo e acaba escolhendo o que chega primeiro, cancelando os demais. Para o motorista, no entanto, isso é prejudicial, pois há custos com deslocamento e perda de tempo, impactando diretamente no trabalho.
Sabemos que os clientes buscam agilidade e que esse comportamento é comum, especialmente em cidades onde o hábito de chamar múltiplos aplicativos ao mesmo tempo é mais recorrente. Isso aumenta significativamente o número de cancelamentos e corridas não atendidas. Há casos em que o índice de atendimento cai para cerca de 70% justamente por esse motivo.
Rogério: Quando o cancelamento parte do motorista, trabalhamos para minimizar essa prática, conscientizando-o sobre a importância de concluir as corridas. Se ele não encontrar o passageiro na primeira tentativa, incentivamos a comunicação com a central para buscar alternativas antes de cancelar.
Já quando o cancelamento vem do cliente, o controle é mais difícil, pois muitas vezes ele cancela para tentar encontrar um motorista mais próximo. O problema é que, em diversos casos, ele acaba sendo atendido pelo mesmo motorista que já estava a caminho. Essa percepção equivocada do tempo de espera contribui para o aumento dos cancelamentos, tornando a gestão desse fator um desafio contínuo.
Em algumas cidades, aplicamos a taxa de cancelamento, enquanto em outras não. Nossa matriz, por exemplo, não adota essa cobrança, mas em cidades como Goiana e Alegria, a taxa é aplicada.
Emerson: Tentamos implementar a taxa de cancelamento em algumas regiões, mas a experiência mostrou que, em cidades menores, pode ser prejudicial. Matematicamente, perder um cliente devido a essa cobrança pode sair mais caro do que o valor arrecadado com a taxa. Fizemos esse cálculo e percebemos que, em alguns casos, o cancelamento ocorre por falha do motorista, mas a cobrança acaba recaindo sobre o passageiro, o que pode ser injusto e levar à perda de clientes.
Se um usuário realiza centenas de corridas na plataforma e começa a ser cobrado R$ 2 ou R$ 3 repetidamente por cancelamentos, ele pode optar por outro aplicativo. Por isso, conforme mencionado, a taxa de cancelamento não é aplicada de maneira uniforme em todas as cidades.
O motorista que trabalha com o aplicativo de vocês, a gente sabe que cada motorista tem um perfil, né? Mas vamos dizer que ele rode bastante com vocês, se dedica aí. Quanto, mais ou menos, ele pode faturar por mês?
Jairo: Se o motorista trabalha exclusivamente pelo aplicativo, ele consegue manter uma média de faturamento de aproximadamente R$ 8.000 com tranquilidade. Há casos de motoristas que atingem valores entre R$ 8.000 e R$ 12.000 regularmente.
Emerson: Em algumas cidades menores, os ganhos podem ser ainda maiores. Temos registros de motoristas que faturaram até R$ 20.000 em um único mês. No entanto, é importante considerar a relação entre o modelo de cobrança do aplicativo e o faturamento do motorista.
Quando se cobra uma taxa fixa de mensalidade, cria-se um limite nos ganhos, tanto para o motorista quanto para a plataforma. Por exemplo, um motorista que faturou R$ 17.000, após descontar suas despesas, levou para casa algo em torno de R$ 13.000 a R$ 14.000. Se ele estivesse vinculado a um modelo de mensalidade fixa, esse valor poderia estar engessado, e o aplicativo também teria um teto de arrecadação.
Esse ponto já foi levantado antes: a cobrança por mensalidade pode restringir o crescimento, pois o motorista não tem um incentivo direto para realizar mais corridas e a plataforma não se beneficia do aumento da demanda. Quando a remuneração é baseada em porcentagem sobre as corridas, o motorista pode ganhar mais e a empresa também, sem a necessidade de inflar artificialmente a quantidade de condutores ativos.
Outro problema do modelo de mensalidade é que, para aumentar o faturamento, seria necessário adicionar mais motoristas em cidades que talvez não comportem essa quantidade. Isso pode gerar insatisfação tanto entre os condutores, que passam a ganhar menos, quanto na plataforma, que enfrenta uma rotatividade elevada. Muitos motoristas acabam desistindo do serviço ou não renovam a mensalidade, tornando o gerenciamento mais complexo.
Jairo: Além disso, há um fenômeno em algumas plataformas que utilizam o modelo de mensalidade: motoristas se cadastram apenas para regularizar sua situação perante prefeituras que exigem regulamentação, mas não necessariamente aceitam corridas. O aplicativo fica chamando, mas o cliente não é atendido, impactando diretamente o percentual de solicitações concluídas.
Já no modelo baseado em porcentagem, o aplicativo tem um interesse direto em atrair mais clientes, pois seus ganhos estão diretamente ligados ao volume de corridas realizadas. Esse é um dos fatores que fazem esse modelo ser mais sustentável a longo prazo.
Pensando agora em investimentos. Quais investimentos vocês fizeram para aprimorar essa experiência do usuário? O que vocês pensaram para atrair esses usuários e para que eles tivessem uma melhor experiência com o app mesmo, sabe?
Jairo: O principal investimento do Tchê Levo, desde o início, foi na criação e manutenção de uma central física, pois isso representa um diferencial importante para as cidades onde atuamos. Trabalhar apenas pelo aplicativo não seria viável em algumas regiões, especialmente no interior, onde a demanda por um atendimento mais próximo e personalizado é maior.
Por isso, investimos em estrutura e funcionários para esse serviço. Atualmente, se não me falha a memória, contamos com centrais físicas em cinco cidades. No interior, esse atendimento diferenciado faz toda a diferença, pois muitas pessoas já estão acostumadas com esse modelo.
Emerson: Mesmo com campanhas incentivando o uso do aplicativo, sabemos que há clientes que preferem o contato direto com a central. O atendimento personalizado faz com que os clientes se sintam valorizados, pois os atendentes conhecem seus nomes, endereços e preferências. Quando ligam, seus dados já estão cadastrados, tornando o processo ágil e eficiente. Esse vínculo gera confiança e fidelização.
Rogério: Além disso, há um público significativo que não tem familiaridade com aplicativos ou smartphones e, para eles, a ligação telefônica ainda é a melhor opção. Muitos também optam pelo contato via WhatsApp, reforçando a necessidade de um suporte humano no atendimento.
Jairo: Vale ressaltar que, mesmo com esse formato de atendimento, todas as chamadas realizadas pela central são cadastradas no sistema e vinculadas ao nome do cliente, garantindo conformidade com as legislações vigentes. As corridas são sempre registradas e monitoradas, e caso haja qualquer movimentação suspeita, acompanhamos de perto.
Outro ponto importante: não utilizamos grupos de WhatsApp para chamadas de corridas. O processo segue um padrão seguro, com controle e rastreamento adequados para garantir um serviço confiável e de qualidade.
Vocês pensam em expandir para outros estados?
Jairo: A gente está dando um passo de cada vez. Queremos chegar em mais cidades no Rio Grande do Sul, mas temos nossas ambições, sim. Santa Catarina é um foco. Inclusive, estamos aqui e todo mundo gosta desse estado. Então, provavelmente, vamos expandir para alguma cidade em Santa Catarina em breve.
Pessoal, agora eu queria entender de vocês que tipo de habilidade ou conhecimento vocês acham que é essencial para o gestor de aplicativo, né? Para pessoas que trabalham assim como vocês.
Emerson: A primeira característica que um gestor municipal precisa ter é o espírito empreendedor. Ele deve ter visão, buscar alternativas e estar sempre em busca de inovação. Precisa querer vencer, não apenas delegar a gestão do sistema para terceiros, como o seu Pedro ou o seu Paulo, porque isso simplesmente não vai funcionar.
É fundamental que ele tenha essa determinação, essa vontade de crescer, aliada a conhecimentos técnicos. Mas, acima de tudo, o que faz a diferença é o empreendedorismo, essa capacidade de enxergar além, de identificar oportunidades e agir. Nós fornecemos suporte em marketing e tecnologia, isso já está garantido. No entanto, se o gestor não for realmente um empreendedor e não buscar o próprio sucesso, será muito difícil que as coisas deem certo.
Aliás, os casos de maior sucesso que temos nesse contexto são justamente de gestores altamente empreendedores. Eles são determinados, proativos, não esperam que a gente peça nada — apenas recebem nosso suporte e fazem acontecer.
Quando encontramos um gestor com esse perfil, as chances de sucesso são muito maiores, porque ele está sempre buscando algo mais, sempre inovando. Ele não fica parado esperando que as coisas aconteçam; ele vai lá e faz acontecer.
O essencial é o espírito empreendedor, essa energia para inovar e criar oportunidades. Sempre há novas possibilidades, novas estratégias, pois o próprio sistema se atualiza constantemente. Por isso, é indispensável estar atento às novidades do mercado.
Qual é o marketing da cidade que está fazendo mais sucesso?
Emerson: A estratégia de marketing varia conforme a cidade. Tem locais onde o rádio faz muito sucesso, então, nesse caso, o investimento na mídia radiofônica é fundamental. Em outros, redes sociais são o canal mais eficiente. É importante ter essa visão rápida e saber adaptar a abordagem, porque o mercado e a concorrência se movimentam rapidamente.
Esse é um setor em expansão no Brasil todo, então estar atento às tendências e às melhores estratégias para cada região é essencial para manter a competitividade.
Gente, agora os planos. Qual é a expectativa agora que esse ano está chegando em questão de aumentar o número de cidades, número de corridas, faturamento? O que vocês esperam?
Jairo: Neste primeiro momento, nosso principal objetivo é consolidar nossa presença onde já estamos e, a partir disso, avançar com segurança, dando um passo de cada vez. Das 12 ou 13 cidades em que atuamos, identificamos que duas ainda precisam de um cuidado maior. Então, antes de expandirmos, é essencial garantir que tudo esteja bem estruturado.
Com a tecnologia que temos, é relativamente fácil abrir novas cidades. No entanto, é preciso ter firmeza no que se está fazendo, porque, do contrário, será apenas mais uma cidade, apenas mais um número. Temos, sim, essa ambição, mas queremos crescer com os pés no chão, sempre com uma estrutura bem planejada.
Emerson: Não adianta chegarmos aqui e dizer que estamos em 50 cidades se, na prática, muitas delas não estão realmente funcionando. O crescimento precisa ser sólido, com gestores que tenham o perfil certo, que realmente queiram vencer. Quando encontramos esses gestores comprometidos, a expansão acontece naturalmente e de forma sustentável.