Faturava R$ 10 mil e lucrava R$ 6 mil por mês: Uber é ruim, mas quebra o galho 

Motorista de app trabalhava de 8 a 9 horas por dia em Salvador e comenta: “ruim com com a Uber, pior sem a Uber”. 

Captura de tela de um perfil em um aplicativo de transporte. A imagem mostra um motorista chamado João com um fundo azul decorado com formas geométricas. Abaixo da foto de perfil, há informações como idioma falado (espanhol e português), local de origem (Salvador, Bahia, Brasil), e o total de viagens realizadas (5.914 em 6 anos). Também há uma seção de elogios recebidos com diferentes ícones e números.
Foto: João Seixas para 55content

Os aplicativos de transporte se tornaram uma alternativa essencial para muitos brasileiros que buscam renda e flexibilidade. João Seixas, motorista há cerca de quatro anos, viu na Uber uma oportunidade confiável para garantir seu sustento. Apesar dos desafios diários, como trânsito intenso e altos custos, ele acredita que o serviço trouxe soluções importantes para trabalhadores e passageiros. Agora, ele se prepara para retomar suas atividades na região de Palhoça, Santa Catarina, após um período afastado.

Com uma visão otimista, João compartilha suas estratégias para manter um bom faturamento e garantir segurança nas corridas. Ele destaca a importância de escolher trajetos estratégicos, aproveitar os horários de pico e adotar medidas preventivas para evitar riscos. Para ele, os aplicativos ainda são uma solução viável para quem busca trabalho e independência financeira, apesar dos desafios enfrentados pelos motoristas.

O que te levou a ser motorista de aplicativo? Há quanto tempo você trabalha com isso?

João: Comecei há três ou quatro anos e acredito que os aplicativos, principalmente o Uber, vieram para salvar a situação de muita gente. Vejo colegas que sustentam suas famílias com o aplicativo, fazem um extra ou simplesmente dependem desse trabalho.

Acho que foi uma das melhores coisas que já aconteceram, ainda mais com o país passando por essa situação difícil. Por isso, fico triste quando alguns colegas falam mal dos aplicativos, especialmente do Uber, que é uma empresa séria e tem ajudado muitas famílias.

Sem contar a questão da mobilidade, que facilita a vida de quem precisa levar os filhos à escola, ir a uma farmácia ou ao mercado. De modo geral, os aplicativos trouxeram uma solução muito boa.

Muitas vezes, para quem é motorista, as opções de trabalho são vagas que pagam R$ 1.600, R$ 1.700, R$ 1.800 e exigem muito mais obrigações, como vender mercadorias, emitir nota fiscal, assinar termos, entre outras responsabilidades. Os aplicativos são uma alternativa viável para fugir dessas limitações.

Eu não sou ingrato com os aplicativos. Sei que eles resolvem o problema de muitas famílias desesperadas e desempregadas. Até oro por quem criou esses serviços, especialmente o Uber, que considero uma empresa séria. Foi por isso que escolhi trabalhar com ela, pois sempre cumpriu com os pagamentos e me proporcionou boas condições de trabalho. Agora, vou voltar a rodar em Palhoça, Santa Catarina. Sempre trabalhei em Lauro de Freitas, Salvador, Camaçari e Praia do Forte, e nunca tive problemas com a Uber.

Não tenho nada contra a 99 ou outros aplicativos, mas prefiro não mudar de uma empresa que sempre correspondeu comigo.

Você mencionou que ficou um tempo afastado. Quando exatamente você começou a trabalhar com os aplicativos?

João: Comecei há cerca de quatro anos. Depois, parei por um tempo para trabalhar com corretagem de imóveis. Passei por um problema de saúde, mas agora estou bem, renovei minha habilitação e vou voltar a trabalhar, desta vez em Palhoça, Santa Catarina.

Durante o tempo em que trabalhou com o aplicativo, qual era sua estratégia? Quantas horas por dia você trabalhava? Quantos quilômetros rodava? Como escolhia as corridas?

João: Quando estava rodando, confiava muito nos cálculos do aplicativo e não achava que tinha prejuízo. Mas eu preferia aceitar passageiros que estivessem a no máximo dois quilômetros de distância. Se fosse três, quatro, cinco quilômetros e dependendo do local, especialmente se fosse uma área perigosa, eu optava por outra corrida. Mas sempre agindo com ordem e respeito, sem deixar de atender as solicitações.

Em relação à tarifa, eu não tinha uma regra fixa de escolher apenas as mais altas, como R$ 2,00 ou R$ 3,00 por quilômetro. Pegava quase todas as corridas e não via prejuízo nisso.

Você tinha alguma meta de faturamento diário?

João: Sim, minha meta era entre R$ 300 e R$ 350 por dia. Para atingir isso, eu trabalhava cerca de oito a nove horas por dia.

Quantas vezes por dia você costumava abastecer? Quanto gastava com combustível?

João: Eu gostava de sair bem cedo, por volta das seis da manhã. Em Lauro de Freitas, onde eu morava, como é próximo ao aeroporto, havia muitas corridas para lá logo cedo. Eu pegava essas corridas e, ao chegar no aeroporto, o próprio Uber já me encaminhava para outra viagem, sem precisar esperar na fila.

Trabalhava o dia todo e preferia almoçar na rua para não perder tempo voltando para casa. Mas sempre dava para fazer uma pausa para almoçar sem problemas.

Você costumava tirar folga em algum dia da semana?

João: Sim, eu costumava folgar aos domingos. Mas às vezes, precisava trabalhar no domingo para completar o valor e pagar alguma conta extra.

Durante a semana, você mencionou que fazia em torno de R$ 300 a R$ 350 por dia. No final de semana, esse valor aumentava?

João: Sim, no final de semana aumentava. Durante a semana, o movimento era estável até quinta-feira. Na sexta-feira, o valor já subia porque havia muito movimento à noite. O pessoal saía para festas, ia para o Largo do Rio Vermelho comer acarajé, viajavam para a Praia do Forte ou pegavam a rodoviária.

Eu costumava ter um movimento muito bom até meia-noite ou uma hora da manhã. Depois disso, dependia do limite do aplicativo, pois quando você ultrapassa um determinado tempo de trabalho, o Uber envia um alerta para preservar a segurança tanto do motorista quanto dos passageiros.

Na sexta-feira, dava para faturar entre R$ 700 e R$ 800. O mesmo acontecia no sábado.

No final do mês, quanto você conseguia faturar, sem contar os custos?

João: No bruto, dava para chegar a R$ 9.000 ou R$ 10.000.

E, tirando os custos com combustível, quanto sobrava no final?

João: Depois de descontar os gastos, ficava com um líquido de aproximadamente R$ 6.000.

Você sente que antigamente era mais fácil ganhar dinheiro como motorista de aplicativo?

João: Pelo que converso com os colegas, sim. Atualmente, tem mais motoristas, mas os aplicativos estão bem organizados e não deixam ninguém sem corrida.

Vou voltar a rodar agora em Palhoça, Santa Catarina, porque minha filha mora lá e Salvador está muito violento. Eu gosto de rodar com a Uber e quero continuar no aplicativo. No fim do mês, já devo providenciar um carro para voltar ao trabalho.

Acredito que quem trabalha sério consegue ter retorno, mas tem aqueles que tentam dar um “jeitinho brasileiro” e acabam prejudicando o sistema. Para quem quer trabalhar, os aplicativos ainda são uma boa opção. O que poderia melhorar seria a porcentagem que os aplicativos cobram, pois o combustível está caro.

Quais são as maiores dificuldades que os motoristas enfrentam?

João: O trânsito e o calor intenso, pois ficamos muitas horas dirigindo. Isso afeta a coluna, o joelho, dependendo da idade. Além disso, o medo de assalto é uma grande preocupação.

Muitas vezes, você chega ao local e tem três ou quatro pessoas com uma aparência suspeita. Outro problema é quando os passageiros exigem que você entre em ruas estreitas ou locais perigosos, mesmo quando poderiam andar poucos metros até o carro.

Também tem a questão dos cancelamentos. Você chega ao local e, de repente, a corrida é cancelada. Isso atrapalha bastante.

Você trabalhava com Uber Comfort ou Uber X?

João: Apenas Uber X, com um Fiesta branco hatch.

Uber é ruim, mas quebra o galho de muita gente; ruim com ela, pior sem ela

Quais são os conselhos que você daria para quem está começando como motorista de aplicativo?

João: Meu principal conselho é observar bem a distância para buscar o passageiro. Muitas vezes, você se desloca cinco ou seis quilômetros para uma corrida de apenas sete reais, e isso é desvantajoso. O ideal é aceitar chamadas que estejam a no máximo dois quilômetros de distância e que paguem pelo menos R$ 1,50 ou R$ 1,60 por quilômetro.

Outro ponto é a segurança. O motorista novato não pode ser afoito e deve prestar atenção a quem está embarcando. Muitas vezes, o passageiro que pediu a corrida não é quem vai entrar no carro. Se você chega ao local e encontra outra pessoa alegando que a corrida foi solicitada por um familiar, é melhor recusar.

Eu já passei por uma situação em que aceitei uma corrida pedida por terceiros e, ao longo do trajeto, percebi que os passageiros queriam que eu desviasse para um local perigoso. Deus me iluminou, e eu alterei a rota, levando-os para uma área mais movimentada. Quando avistei uma viatura policial, parei imediatamente e percebi que os passageiros tinham intenções ruins.

Outro ponto essencial é conhecer os bairros onde você vai trabalhar. Em Salvador, por exemplo, áreas como São Caetano e Pernambués são perigosas. Muitos motoristas de aplicativo já foram vítimas de assaltos ou até de crimes mais graves nesses locais. O motorista deve estudar a região, evitar locais de alto risco e sempre confiar no aplicativo.

Você sempre conseguiu manter um faturamento entre R$ 9.000 e R$ 10.000?

João: Sim, mas isso depende da carga horária. Nos dias em que eu estava muito cansado, fazia menos horas e, consequentemente, ganhava menos. Mas se você sabe aproveitar os horários de pico, consegue um bom faturamento sem precisar dirigir o dia inteiro.

Por exemplo, saindo de casa cedo, das 6h às 9h, depois descansando e voltando às 12h para pegar o pessoal que leva crianças à escola, e retornando às 17h para o movimento da noite, você consegue manter um bom ganho sem se sobrecarregar. Para atingir entre R$ 9.000 e R$ 10.000 no bruto, é necessário rodar o dia todo, mas com uma estratégia boa, o motorista pode equilibrar descanso e rendimento.

Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa? 

João: Estou chegando em Palhoça no dia 25. Preciso cadastrar o carro e talvez tirar uma nova foto, mas acredito que a partir do dia 28 já estarei rodando na região de Palhoça, São José e Florianópolis. 

Estou animado e minha intenção é trabalhar com a Uber, pois nunca tive problemas com a empresa. Eles sempre depositam corretamente e, como eu prefiro pagamentos via cartão, isso me dá mais segurança.

Já fiz pesquisas sobre Palhoça, São José e Florianópolis, e agora vou estudar melhor os bairros para evitar os locais mais perigosos. Tenho confiança de que farei um bom trabalho e que serei bem remunerado. Sei que muitas pessoas criticam os aplicativos, mas eu sou grato à Uber, pois ela tem sido uma boa opção de sustento para muita gente.

Além disso, país está passando por uma situação difícil, e nós não podemos ser ingratos. Precisamos agradecer a Deus por esses aplicativos, especialmente a Uber, que oferece oportunidades sem burocracia. Você já começa a trabalhar de imediato e vê o dinheiro entrando na conta.

Porém, é importante lembrar que o trabalho exige esforço. Não dá para ficar parado esperando dinheiro cair do céu. Algumas pessoas querem exigir demais e reclamar dos aplicativos, mas eu vejo de forma diferente. Sou grato. O desemprego caiu muito por causa desses serviços.

Se não fossem os aplicativos, teríamos mais casos de desespero, até suicídios. Muitas pessoas sustentam suas famílias ou pagam faculdade dirigindo para aplicativos. Sei que o rendimento não é o ideal, mas quebra um galho.

Temos que reconhecer e agradecer a quem criou essas plataformas, pois ajudaram muita gente. Meu genro, por exemplo, também roda para aplicativos e consegue ajudar na educação da filha, que estuda medicina na Argentina.

Claro que sempre há pontos a melhorar. Se os aplicativos reduzissem um pouco as taxas cobradas, seria uma grande ajuda, pois os gastos com manutenção do carro são altos. No entanto, ainda assim, é uma alternativa viável para ganhar dinheiro.

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Giulia Lang

Giulia Lang é líder de conteúdo do 55content e graduada em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

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