Diretor de tecnologia da empresa conta sobre o futuro, modelo de negócios e sistema logístico do Grupo Rão.
O Grupo Rão, fundado pelos irmãos Henrique e Guilherme Lemos, se consolidou como uma referência no mercado de delivery com suas marcas diversificadas e foco em velocidade e eficiência.
A empresa, que começou com uma pequena cozinha, hoje conta com quase 20 marcas no portfólio e uma operação estruturada para atender diferentes segmentos do mercado de alimentação.
Em entrevista exclusiva ao 55content, César Affonso, CTO (Chief Technology Officer) da empresa, detalhou mais sobre a operação.
Modelo colaborativo
Segundo o diretor de tecnologia César Affonso, o Grupo Rão adota uma abordagem que incentiva a participação ativa de seus colaboradores no desenvolvimento de novas iniciativas.
Affonso afirma que as ideias que apresentam potencial são rapidamente colocadas em prática pelos próprios proponentes: “Se você chega, traz uma ideia para eles que faz algum sentido, o cara fala assim: ‘Beleza, você é dono desse projeto, faz ele acontecer e vamos’”, explicou.
Essa dinâmica reflete um modelo de operação descentralizado, no qual diferentes áreas e frentes de atuação são conduzidas simultaneamente. Para César, o trabalho coletivo contribui para a expansão das atividades da empresa: “É muita gente unida. Um sentimento de ser Rão, e cada um trazendo uma coisa nova. Por isso que você vê o Rão dominando tanto. É muita gente atacando muitas frentes ao mesmo tempo, para que, no todo, o ecossistema Rão fique gigante.”
César também comentou sobre o ambiente interno do grupo, destacando o engajamento dos colaboradores em torno dos objetivos organizacionais. Segundo ele, a operação se assemelha a uma missão coletiva com foco no crescimento: “Parece que a gente não tá numa empresa. Parece que a gente tá quase que numa missão. Todo mundo aqui, e a gente precisa fazer esse gigante crescer mais ainda.”
Transformação tecnológica e FarmaRão
O Grupo Rão iniciou uma transição tecnológica com o objetivo de modernizar sua operação e torná-la mais eficiente. Durante anos, o Rão operou sem sistemas próprios, utilizando ferramentas terceirizadas e realizando vendas pelo Facebook e telefone: “O Rão sobreviveu por muito tempo vendendo pelo Facebook. Talvez uns três anos”, contou César.
Affonso, responsável pela área de tecnologia, explicou que antes cada loja utilizava sistemas independentes, o que dificultava a consolidação de dados e a gestão centralizada: “A gente usava um sistema terceirizado, e cada loja tinha o seu sistema. Nada era unificado. Então, se você quisesse ter uma informação da rede ou de alguma marca específica, tinha que ir dentro de cada lojinha, puxar um monte de dados e depois consolidar tudo”, comentou.
Com a implementação de sistemas próprios, a empresa começou a integrar suas operações e adotou uma abordagem mais escalável. César destaca que essa mudança marcou uma nova fase, onde o Grupo Rão passou de uma empresa de alimentação para uma de tecnologia aplicada ao setor, ou “food tech”.
Atualmente, o grupo conta com um aplicativo próprio, um sistema de PDV (ponto de venda) exclusivo e uma área de inteligência de negócios (BI) voltada para análises e tomadas de decisão.
Além disso, a tecnologia está sendo expandida para outros mercados, como o setor farmacêutico, com o lançamento previsto da marca Farma Rão: “Estamos em contato com uma rede de farmácias bem grande. Nos próximos pouquíssimos meses, você já vai começar a ouvir falar da Farma Rão”, revelou César.
Essa transição reflete uma mudança estratégica no grupo, como reconhecido pelos fundadores: “Os próprios donos da empresa falam que os 10 primeiros anos foram os anos analógicos, e agora, os próximos 10 anos do Rão são os anos tecnológicos”, afirma César, destacando que o foco atual está em aproveitar as vantagens da tecnologia para escalar a operação e diversificar mercados.
Sistema de entregas e modelos de logística
A operação logística do Grupo Rão utiliza diferentes modelos para atender às demandas de entrega. Segundo César, as lojas podem optar por entregadores próprios, terceirizados ou pela integração com o iFood: “Tem loja que tem entregador próprio, tem entregador terceirizado, que usa entregador da integração do iFood. Mas a maioria das lojas faz um misto de tudo, pega um pouquinho de cada um.”
Os desafios relacionados à gestão de entregadores incluem questões trabalhistas e operacionais. César destacou que a escolha do modelo ideal envolve uma análise cuidadosa dos riscos e benefícios: “Se você contrata o CLT, tem a vantagem de talvez sair mais barato financeiramente, e você vai ter mais disponibilidade desse entregador na sua loja. Mas, ao mesmo tempo, você tem todos os riscos trabalhistas.”
Já o uso de empresas terceirizadas pode reduzir a gestão direta, mas traz outras preocupações, como a possibilidade de alegações de pejotização e a dependência de disponibilidade de entregadores. Por outro lado, a integração com plataformas como o iFood garante maior disponibilidade, mas com custos mais elevados: “Com o iFood, você paga caro, mas entende-se que tem uma disponibilidade de motoboys praticamente infinita.”
Diante dessas opções, muitas lojas optam por uma estratégia híbrida, utilizando diferentes modelos para equilibrar custos e eficiência: “São três coisas completamente diferentes, cada uma com suas prós e contras. E aí as lojas acabam por fazer um misto,” concluiu César.
Desafios e futuro
O modelo de negócios do Grupo Rão tem como pilares a entrega rápida, produtos de qualidade e preços competitivos, segundo César. Ele destacou que a empresa ajustou seu posicionamento no mercado: “O Rão sempre foi conhecido no mercado como o ‘bom e barato’. Só que, hoje em dia, o barato já não é mais uma opção. Hoje o Rão é o ‘bom e justo’. Você sabe que vai receber um produto que não é a coisa mais premium do mundo, mas tudo bem.”
Essa mudança reflete os desafios de equilibrar a operação com o aumento dos custos de mão de obra e insumos: “Uma das grandes dificuldades é arredondar a operação para conseguir ter uma entrega satisfatória em tempo rápido, com um produto bem trabalhado. Isso é essencial para lutar contra esse problema gigantesco, que é o aumento dos custos”, explicou.
Com o objetivo de fortalecer a operação, o grupo decidiu concentrar esforços em marcas que apresentam maior retorno: “Ao invés de criar 20 marcas, é melhor escolher aquelas que a gente sabe que funcionam muito bem e direcionar o canhão para elas”, afirmou César. A estratégia permite otimizar recursos e focar na expansão para novos mercados.
O próximo passo do Grupo Rão é uma expansão agressiva para outros estados, com destaque para São Paulo. Segundo César, o Rio de Janeiro já apresenta uma alta concentração de unidades, dificultando novas aberturas em áreas de grande demanda: “Se você pegar no mapa todos os lugares que têm Rão, é difícil achar um lugar maneiro agora para colocar outra unidade, porque já não tem mais. A ideia é replicar o modelo de sucesso do Rio em outras regiões do país”, completa.