Floripa defende que a Uber usa o Uber Pro para disfarçar seu controle sobre as metas de aceitação e cancelamento, manipulando motoristas sem assumir responsabilidades trabalhistas.
Por Fernando Floripa
A relação entre motoristas de aplicativo e a Uber sempre foi marcada por questões delicadas, especialmente no que diz respeito às taxas de aceitação e cancelamento. Muitos motoristas se perguntam: “Se eu recusar corridas, meu aplicativo vai parar de tocar? Vou ser penalizado?”. A verdade é que, para entender essa dinâmica, é preciso revisitar a história do serviço no Brasil e as implicações legais que moldaram as políticas da empresa.
Quando a Uber começou no Brasil, há 10 anos, ela realmente exigia que o motorista mantivesse taxas mínimas para continuar trabalhando. Para eles, o aceitável era 80% de taxa de aceitação e, no máximo, 20% de taxa de cancelamento. O mesmo acontecia com a nota: era exigido um mínimo de 4,7.
E o motorista que não cumprisse essas metas era bloqueado da plataforma.
O mais curioso é que, na época, eles tocavam o terror nos motoristas: se as suas taxas caíssem, a Uber começava a mandar e-mails e até SMS te alertando para melhorar, ou você poderia perder a sua conta.
Mas aqui é o Brasil, né? Em pouco tempo, a Uber descobriu que, ao tentar obrigar o motorista a fazer algo que ela quer, como manter uma taxa mínima de aceitação, por conta de leis trabalhistas, isso gera vínculo de emprego, CLT.
Afinal, se eu sou motorista autônomo, como assim a Uber quer me obrigar a fazer as viagens que eu não quero? Quer me obrigar a trabalhar?
E foi por conta dessas cobranças que a empresa começou a tomar vários processos trabalhistas na justiça, onde os motoristas exigiam a reativação da conta e indenizações por vínculo.
Para fugir do vínculo, a empresa precisou então mudar, e a partir daí ela parou de exigir e bloquear motoristas por causa da taxa de aceitação.
Só que isso gerou um problema para a empresa, pois para eles é importante que o motorista aceite o maior número de viagens possível, afinal, ela só ganha se a viagem acontece.
Logo, se o motorista recusa muitas corridas, o passageiro demora a conseguir um carro e desiste, talvez indo para um app concorrente, e aí a Uber perde dinheiro.
Foi a partir dessa situação que eles resolveram criar um programa de incentivo chamado Uber Pro, que premia os motoristas que conseguem manter as suas taxas dentro das metas da Uber. Um jeito inteligente de induzir o motorista a fazer exatamente o que a empresa quer sem precisar obrigá-lo a nada.
Por meio do Uber Pro, quando o motorista faz o que a Uber quer, ou seja, aceita o maior número de corridas, cancela pouco e mantém sua nota alta, ela oferece alguns benefícios extras, como desconto em academia, preferência no aeroporto e até um número de telefone de suporte exclusivo.
E com essa manobra, a Uber tem conseguido manipular os motoristas, pois, desde que o Uber Pro foi criado até hoje, são muitos os que correm desesperados para manter as suas taxas dentro das metas da Uber, seja pelo medo antigo de ser bloqueado, seja para receber os tais benefícios do Uber Pro.
Então, agora que você entendeu de onde vem o trauma dos bloqueios por taxa e que, se a Uber exigir isso, ela pode ser processada por vínculo trabalhista, e que o Uber Pro não passa de um sistema de manipulação em massa para induzir o motorista a fazer o que a empresa quer sem obrigá-lo, você pode relaxar um pouco com a taxa de aceitação e focar no seu trabalho e em ganhar dinheiro.
Agora a pergunta de um milhão de reais: vale a pena fazer o que a Uber quer e aceitar o maior número de viagens?
Para mim, particularmente, não, mas isso será assunto para o nosso próximo papo.
Quem é Fernando Floripa?
Fernando Dutra, mais conhecido como Fernando Floripa, é motorista de aplicativo em Florianópolis. Desde 2016, ele tem ajudado motoristas de todo o país a enfrentar os desafios da profissão, compartilhando dicas e conteúdos no YouTube e em outras redes sociais. E o sucesso foi tanto que, hoje, Fernando já soma quase 1 milhão de seguidores entre YouTube, Facebook, Instagram e TikTok.
Casado, pai de três filhos e formado em Ciências da Computação e Administração, Fernando segue firme na estrada, trabalhando ativamente como motorista e, ao mesmo tempo, incentivando a união da categoria. Com sua experiência, presença online e determinação, Fernando Floripa se tornou uma verdadeira referência nacional para quem vive da mobilidade.