Em seu podcast oficial, a Uber negou que fica com a maior parte do que um motorista recebe durante a corrida e que desconta aproximadamente 25% do valor total da viagem do condutor.
Após a publicação da matéria, diversos leitores nos escreveram para contradizer a versão da empresa.
O leitor e motorista de app, Alluan Hander, disse que a Uber fica com grande parte dos ganhos, sendo a média de desconto de 48%.
Hander compartilhou com a nossa equipe um recibo de uma das viagens que trabalhou como motorista. No recibo constava que ele havia ganhado R$59,51 percorrendo 37 km durante 1 hora e 3 minutos. O passageiro havia pago R$104,98. Ou seja, a empresa descontou 56,6% do valor total da viagem.
Com base nisso, diversos outros leitores expressaram sua indignação com a afirmação da Uber.
“Recentemente, durante uma viagem que realizei, o cliente pagou R$84,95 pelo serviço, mas meu pagamento foi de R$49,22. Isso significa que a Uber reteve 42,07% do valor total, e essa situação tem se repetido com frequência. Tenho observado que o tempo e a distância da viagem que são informados no momento em que aceitamos a corrida costumam ser menores do que o tempo e a distância reais da viagem. Infelizmente, não recebemos compensação adicional por situações como pegar vias interditadas e fazer desvios, o que acaba sendo desvantajoso para nós. Também gostaria de destacar que enfrentamos dificuldades quando um cliente solicita que o pagamento seja adiado para a próxima viagem. A Uber trata os motoristas com desconfiança nesses casos, tornando difícil receber o valor devido. Isso nos faz sentir que não somos respeitados como parceiros pela empresa”, relatou o motorista Mauro.
“Quando eu faço 10 corridas em uma semana, uma delas custa R$200, e a taxa da Uber é de 40% sobre essa corrida. As outras nove corridas custam R$10 cada. A Uber reduz a taxa dessas nove corridas para que, no final da semana, a taxa total seja de apenas 25%. Em resumo, nas corridas caras, a taxa é alta para ganhar mais dinheiro, mas nas corridas mais baratas, a taxa é baixa”, explicou.
Segundo ele, isso acontece porque a Uber ajusta os preços dependendo de fatores como a região, se o passageiro é estrangeiro ou usa um cartão corporativo, entre outros. “Em algumas situações, o passageiro paga mais caro e a Uber repassa menos para os motoristas, porque há muitos motoristas disponíveis nas ruas, então, mesmo com tarifas mais baixas, algum motorista novo aceitará a corrida.”
“Por exemplo, um passageiro que faz o trajeto de Jundiaí para São Paulo paga R$225, enquanto outro passageiro faz um trajeto semelhante e paga R$150. No entanto, o motorista receberá o mesmo valor nas duas corridas”, disse o motorista Cristiano.
“A Uber não possui um veículo que sofre depreciação, não realiza trocas de óleo, não tem pneus que se desgastam, não arca com despesas de mecânico, não gasta com combustível, não se responsabiliza pela alimentação do motorista, não assume os custos relacionados ao vestuário do motorista e não paga pelas despesas de limpeza do veículo diariamente. Além disso, a Uber não enfrenta o risco de assaltos ou acidentes de trânsito, pois opera principalmente como uma plataforma. Os motoristas também têm despesas com aparelhos celulares e planos de internet. Se todos esses gastos fossem somados, muitas vezes o que o motorista recebe mal cobriria os custos com o combustível gasto no transporte dos passageiros”, expõe o leitor Charles Lamounieu.
“A Uber pode dizer o que quiser, mas o que observamos nos recibos de viagem ao final de uma corrida são percentuais de comissão de 40%, 50% e, às vezes, até 60% para a Uber. A empresa argumenta que os motoristas devem olhar para a média semanal, pois eventualmente pegam algumas corridas com tarifas mínimas durante a semana, o que faz com que esse percentual elevado se dilua com o tempo”, diz Adriano Lourelli Zidoro.
Nota da redação:
Este artigo foi elaborado com base na opinião de leitores que são motoristas de aplicativo. Essa visão pode ou não representar a realidade da maioria dos motoristas de aplicativos do Brasil.